domingo, 16 de maio de 2021

ariadnes

 

Na mitologia , o “fio de Ariadne” era uma linha segura  por aqueles que desejavam ir longe, muito longe, pois o fio saía de um novelo inesgotável que não deixava  que se perdessem aqueles que trilhavam caminhos ignorados  pelos mapas. “Ariadne” significa, em grego, “aranha”. Assim como na aranha, é  do ventre de Ariadne que nasce seu  fio artista. 

Ariadne também é o símbolo da Vida  : ventre absoluto, o fio que sai dela é para fazer linhas de fuga. Alguns bordam quadros com tal fio, outros compõem música; há ainda os que fazem versos com esse fio, enquanto outros  tecem filosofias.

O fio se desprende de um novelo. “Novelo” significa: “novo elo”. O ventre de Ariadne é a pura potência para gerar novos elos . Às vezes, porém,  o fio de Ariadne precisa ser descoberto. Certa vez em um hospital psiquiátrico um interno se despiu do uniforme de louco que lhe colocaram, desfez a forma das roupas com significado pronto e acostumado, até achar de novo o fio tal como ele era antes de  um uniforme com  ele ser fabricado. O fio assim encontrado se metamorfoseou em sentido novo a ser bordado: e foi assim que Arthur Bispo do Rosário religou sua vida ao novelo criativo da humanidade inteira,  para assim bordar paisagens, personagens e recriar seu mundo.

O poder autoritário pode até tentar cortar o fio, ou com ele fabricar uniformes para tudo vestir homogêneo. Mas enquanto houver  o existir não conformista,   o  fio cortado pode ainda  ser achado e de novo puxado para com ele se bordar   resistências críticas e criativas. Quando a gente dá as mãos para defender a  democracia, a pluralidade e a liberdade , nós mesmos  nos tornamos elos de um fio de Ariadne puxado do novelo plural da vida.

O fio de Ariadne se opõe ao “fio das Moiras”, divindades que teciam o Destino. Embora não fosse de ferro, o fio das Moiras era férreo: ninguém podia escapar do destino que elas traçavam, às vezes parecendo que elas teciam "camisas de força". O fio de Ariadne, ao contrário, é fio libertário para os que desejam  reinventar destinos.

(Uma pequena homenagem à grande atriz Eva Wilma, na foto com outras Ariadnes como ela, formando de mãos dadas um fio-agenciamento em luta pela defesa da arte e da vida : Eva Tudor, Tônia Carreiro, Leila Diniz, Odete Lara , Norma Bengel e Ruth Escobar)








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