terça-feira, 1 de junho de 2021

o tirano e o "seu exército"

 

A expressão “polícia militar” junta duas palavras que são completamente antagônicas,  no sentido e na prática. A palavra “polícia” vem do termo “pólis”. Essa palavra significa tanto “cidade” quanto “organização”, como em “pró-polis” : a substância que protege a colmeia. A polícia surgiu na Grécia como atividade de auxílio regrado às organizações da pólis. Era , portanto, uma atividade interna. Já o soldado era convocado para guerras externas, quando a democracia precisava se defender dos inimigos externos. Quem era policial não podia ser soldado. Sócrates e Platão, por exemplo, também foram soldados da democracia quando preciso, nunca foram policiais.

Assim, “polícia militar” é uma excrescência da ditadura militar; e agora, mais do que nunca, percebemos para qual função ela foi criada: para guerras paranoicas-sujas  internas , onde o inimigo é o homem livre, o cidadão indignado,  que o tirano de plantão vê como ameaça.

Na Grécia, o pior inimigo não era exatamente o Império Persa, o pior inimigo era o tirano que, às vezes, surgia no próprio solo grego, geralmente oriundo das fileiras militares ou da pequena burguesia. Quase sempre os tiranos aparelhavam a polícia, inclusive para reprimir as escolas de filosofia, os teatros e assembleias. Platão chega a dizer que o tirano é o antifilósofo.

Detalhe espantoso que nos lembra os tristes e perigosos dias atuais:  o cidadão livre também devia  ser soldado   quando a democracia era ameaçada por inimigos  externos , porém  às vezes se aceitava que a função de polícia fosse exercida por um escravo. Na Grécia,  podiam virar escravos não os que infringiam uma determinada  lei, mas aqueles   que não respeitavam a pólis e suas instituições como um todo. Assim, fazer de um escravo um policial , um protetor da pólis e suas regras, era uma forma de se dar ao escravo alguma possibilidade de servir às instituições democráticas. Já o tirano era aquele que rasgava as leis e queria impor, à força,  que todos fossem servos seus. Por isso, o tirano temia os cidadãos que lutam pela liberdade, ele também   adulava os escravos com promessas.  Não promessas de que os tornaria livres, mas sim que não haveria mais liberdade : o escravo seria  o modelo de obediência que o tirano queria impor a todos .

“É servo aquele que não se pertence. É aos escravos, e não aos homens livres, que se dá um prêmio para os recompensar por se terem comportado bem.” (Espinosa)


( na foto, o policial que prendeu o professor acusando-o de terrorista, por colocar em seu carro  a mensagem contra o genocida; abaixo, vemos o mesmo  policial e a quem ele serve).




 

 

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