A expressão “polícia militar” junta
duas palavras que são completamente antagônicas, no sentido e na prática. A palavra “polícia”
vem do termo “pólis”. Essa palavra significa tanto “cidade” quanto “organização”,
como em “pró-polis” : a substância que protege a colmeia. A polícia surgiu na Grécia
como atividade de auxílio regrado às organizações da pólis. Era , portanto, uma
atividade interna. Já o soldado era convocado para guerras externas, quando a
democracia precisava se defender dos inimigos externos. Quem era policial não
podia ser soldado. Sócrates e Platão, por exemplo, também foram soldados da
democracia quando preciso, nunca foram policiais.
Assim, “polícia militar” é uma excrescência
da ditadura militar; e agora, mais do que nunca, percebemos para qual função
ela foi criada: para guerras paranoicas-sujas internas , onde o inimigo é o homem livre, o
cidadão indignado, que o tirano de plantão
vê como ameaça.
Na Grécia, o pior inimigo não era exatamente
o Império Persa, o pior inimigo era o tirano que, às vezes, surgia no próprio
solo grego, geralmente oriundo das fileiras militares ou da pequena burguesia.
Quase sempre os tiranos aparelhavam a polícia, inclusive para reprimir as
escolas de filosofia, os teatros e assembleias. Platão chega a dizer que o
tirano é o antifilósofo.
Detalhe espantoso que nos lembra os
tristes e perigosos dias atuais: o
cidadão livre também devia ser soldado quando
a democracia era ameaçada por inimigos externos
, porém às vezes se aceitava que a
função de polícia fosse exercida por um escravo. Na Grécia, podiam virar escravos não os que infringiam
uma determinada lei, mas aqueles que não
respeitavam a pólis e suas instituições como um todo. Assim, fazer de um
escravo um policial , um protetor da pólis e suas regras, era uma forma de se
dar ao escravo alguma possibilidade de servir às instituições democráticas. Já
o tirano era aquele que rasgava as leis e queria impor, à força, que todos fossem servos seus. Por isso, o tirano temia os cidadãos que lutam pela liberdade, ele também adulava os escravos com promessas.
Não promessas de que os tornaria livres,
mas sim que não haveria mais liberdade : o escravo seria o modelo de obediência que o tirano queria impor
a todos .
“É servo aquele que não se pertence.
É aos escravos, e não aos homens livres, que se dá um prêmio para os
recompensar por se terem comportado bem.” (Espinosa)
( na foto, o policial que prendeu o
professor acusando-o de terrorista, por colocar em seu carro a mensagem contra o genocida; abaixo, vemos o mesmo policial e a quem ele serve).
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