O filósofo Heidegger dizia que uma coisa é “diminuir a distância” , outra bem diferente é o “criar proximidade”. A tecnologia diminui as distâncias, sem dúvida. Mas uma coisa é diminuir a distância entre seres no espaço, outra bem diferente é criar proximidade com o sentido daquilo que nos é mais essencial e indispensável. Esse sentido nem sempre está dado, às vezes ele precisa ser descoberto ou mesmo inventado.
Enquanto instrumento técnico, o telescópio diminui a distância entre a lua e nossos olhos, isso é fato. Porém, quando lemos num poema a lua em versos, o poeta não põe a lua perto de nós no espaço, porém ele a põe tão próximo que, empoemando-nos, experimentamos seu sentido também em nós, no "devir-lunar" que nos tornamos. E quando a lua está cheia, como está agora, o devir-lunar se torna ainda mais vivo e intenso : faz recuar a noite, a de dentro e a de fora.
Esses momentos de isolamento social nos colocaram longe espacialmente, porém nunca estaremos sozinhos existencial e politicamente se mantivermos viva e intensificarmos a proximidade com as ideias e valores que nos fazem seres pensantes e solidários. A arte serve para nos ensinar a aprendermos criar proximidade com tudo aquilo que, para existir e se tornar real, precisa ser criado. Isso vale não só para um poema, vale igualmente para a realidade humana e social que precisamos reinventar depois que todo esse pesadelo, o provocado pelo vírus e o perpetuado pelo verme, tiver passado.
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