quinta-feira, 6 de agosto de 2020

devir-lunar

O filósofo Heidegger dizia que  uma coisa é  “diminuir a distância” , outra  bem diferente é o “criar proximidade”. A tecnologia diminui as distâncias, sem dúvida. Mas uma coisa é diminuir a distância entre seres no espaço, outra bem diferente é criar proximidade com o sentido daquilo que nos é mais essencial e indispensável.  Esse sentido nem sempre está dado, às vezes ele precisa ser descoberto ou mesmo inventado.

Enquanto instrumento técnico, o telescópio diminui a distância entre a lua e nossos olhos, isso é fato. Porém, quando lemos num poema  a lua em versos, o poeta não põe a lua perto de nós no espaço, porém ele a põe  tão próximo que, empoemando-nos, experimentamos seu sentido também em nós, no "devir-lunar" que nos tornamos. E quando a lua está cheia, como está agora, o devir-lunar se torna ainda mais vivo e intenso : faz recuar a noite, a de dentro e a de fora.

Esses momentos de isolamento social nos colocaram longe espacialmente, porém nunca estaremos sozinhos existencial e politicamente se mantivermos viva e intensificarmos a  proximidade com as ideias e valores  que nos fazem seres pensantes e solidários.  A arte serve para nos ensinar a aprendermos criar proximidade com tudo aquilo que,  para existir e se tornar real, precisa ser criado.  Isso vale não só para um poema,  vale igualmente para a realidade humana e social que precisamos reinventar depois que todo esse pesadelo, o provocado pelo vírus e o perpetuado pelo verme,    tiver passado.














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