A palavra “aventura” nasceu de um termo latino que significa: “avançar , ir em frente”. Quando pela frente há escuridão, as ideias são as melhores lanternas para termos em mãos, e avançar agenciado leva mais longe do que avançar sozinho. O contrário de aventura é “desventura”: “infortúnio”.
De “aventura” nasceu
“bem-aventurança” e “venturoso” ( “estar
pleno”). Espinosa emprega o termo “bem-aventurança” como sinônimo do avançar
que conquistou o mais alto grau de confiança em sua potência libertária, e de vida
está pleno . Bem-aventurança, segundo Espinosa, é a “Alegria Suprema”. É desse afeto
que nasceu a maior aventura de Espinosa : o livro “Ética”, desabridor de caminhos para se
seguir em frente.
Os gregos eram autocentrados em
sua pólis, e somente viajavam de ilha grega em ilha grega, costeando o
Mediterrâneo. Porém os romanos ,
sobretudo antes de Roma virar império,
sonhavam em aventurar-se : foi com eles que esse desejo de aventura nasceu,
talvez sob inspiração de povos nômades que conheceram. Esse desejo surgiu não
entre os senadores ou militares, mas entre os poetas e filósofos romanos. A
aventura era um desejo de encontrar aquilo que os pensadores romanos chamavam
de “Terra Nova”, também chamada de “Terra Incógnita”. A “Terra Nova” não estava
em mapas e nem em mitos. A “Terra Nova” não era exatamente um Eldorado, pois o
Eldorado era o lugar onde se imaginava haver muito ouro, uma riqueza antiga. A riqueza a
ser achada na Terra Nova era outra, ainda sem nome. A Terra Nova não se localizava em lugar determinado ao sul ou
ao norte. O que se sabia é que nela as fronteiras não eram limites, eram
horizontes.
“Aventura” é o que Deleuze &
Guattari chamam de “linha de fuga” ou “desterritorialização”. Linha de fuga não é fuga do mundo, linha de
fuga é fazer fugir o que está aprisionado e em desventura , no mundo e em nós.
A Terra Nova não é Utopia, ela é
Heterotopia: lugar de diferenças agenciadas. Essa Terra não é como uma Pátria militar-falocrática, essa Terra é
Mátria : Terra-Mãe ilimitada , chão aberto para aventuras a serem
ousadas.
Quando se perguntava ao
poeta-pensador latino Lucrécio onde se encontrava a Terra Nova, ele
dizia que essa Terra nunca será achada se não for primeiro vislumbrada nos olhos que
a buscam . E Proust parece dizer o mesmo : a
verdadeira aventura, diz ele, não
consiste em “ viajar para ver lugares novos , mas ver com novos olhos ”.
“Este livro é um exercício
libertário da escrita em associação com um pensamento inovador.” (Sílvia
Ulpiano, trecho da Apresentação do venturoso
livro de Cláudio).
“Poeta é quem possui visão fontana.”
(Manoel de Barros)
“No incognoscível, é para lá que
meu pensamento deseja se aventurar.” (Herman Melville)
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