quinta-feira, 13 de agosto de 2020

livro de Cláudio Ulpiano

 A palavra “aventura” nasceu de um termo  latino que significa: “avançar , ir em frente”.   Quando pela frente há escuridão, as ideias são as melhores lanternas para termos em mãos, e avançar  agenciado leva mais longe do que avançar  sozinho.  O contrário de aventura é “desventura”: “infortúnio”.

De “aventura” nasceu “bem-aventurança”  e “venturoso” ( “estar pleno”). Espinosa emprega o termo “bem-aventurança” como sinônimo do avançar que conquistou o mais alto grau de confiança em sua potência libertária, e de vida está pleno . Bem-aventurança, segundo Espinosa, é a “Alegria Suprema”. É desse afeto que nasceu   a maior aventura de Espinosa  : o livro “Ética”, desabridor de caminhos   para se seguir em frente.

Os gregos eram autocentrados em sua pólis, e somente viajavam de ilha grega em ilha grega, costeando o Mediterrâneo. Porém  os romanos , sobretudo antes de Roma virar  império, sonhavam em aventurar-se : foi com eles que esse desejo de aventura nasceu, talvez sob inspiração de povos nômades que conheceram. Esse desejo surgiu não entre os senadores ou militares, mas entre os poetas e filósofos romanos. A aventura era um desejo de encontrar aquilo que os pensadores romanos chamavam de “Terra Nova”, também chamada de “Terra Incógnita”. A “Terra Nova” não estava em mapas e nem em mitos. A “Terra Nova” não era exatamente um Eldorado, pois o Eldorado era o lugar onde se imaginava haver  muito ouro, uma riqueza antiga. A riqueza a ser achada na Terra Nova era outra, ainda sem nome.  A Terra Nova não  se localizava em lugar determinado ao sul ou ao norte. O que se sabia é que nela as fronteiras não eram limites, eram horizontes.

“Aventura” é o que Deleuze & Guattari chamam de “linha de fuga” ou “desterritorialização”.  Linha de fuga não é fuga do mundo, linha de fuga é fazer fugir o que está  aprisionado e em desventura  , no mundo e em nós.

A Terra Nova não é Utopia, ela é Heterotopia: lugar de diferenças agenciadas. Essa Terra  não é como uma Pátria militar-falocrática,  essa Terra é  Mátria : Terra-Mãe ilimitada , chão aberto para aventuras a serem ousadas.

Quando se perguntava ao poeta-pensador latino  Lucrécio  onde se encontrava a  Terra Nova,   ele dizia que essa Terra  nunca será achada  se não for primeiro vislumbrada nos olhos que a buscam . E Proust parece dizer o mesmo  :  a verdadeira aventura, diz ele,  não consiste em “ viajar para ver lugares novos , mas ver com novos olhos ”.  

 

“Este livro é um exercício libertário da escrita em associação com um pensamento inovador.” (Sílvia Ulpiano, trecho da Apresentação do venturoso  livro de Cláudio).

“Poeta é quem possui visão fontana.” (Manoel de Barros)

“No incognoscível, é para lá que meu pensamento deseja se aventurar.” (Herman Melville)


 

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