Segundo Espinosa, nós só conseguimos
vencer alguma coisa que , de fora, tenta nos diminuir e apequenar se dentro de
nós já houver algo que nos engrandece. Para Espinosa , o amparo interno para
nos fortalecer tem um nome: virtude.
Espinosa se difere muito da maneira
tradicional de se falar do tema das virtudes. Essa palavra vem de “virtu”, que
significa “força”, porém não qualquer força.
Virtu é a força potencial, é a força
da potência criativa. Por exemplo, quando se quer lançar uma flecha, é preciso
tensionar a corda do arco. Quando se deseja produzir música com o violão, é
necessário tensionar as cordas desse instrumento. E nosso coração só consegue impulsionar o sangue
que o atravessa porque suas fibras são tensas.
Originalmente, “virtu” era o nome que
se dava a essa força intensa que nasce de uma fibra. Daí vem a expressão
popular: “nada somos ou fazemos, se não tivermos fibra.”
“In-tenso”: “ir para dentro da tensão”. Assim,
ser intenso não é ser nervoso ou agitado. O monge meditando vive uma intensidade,
embora não esteja se agitando. Há silêncios intensos.
A virtude é a força emancipadora nascida das fibras da alma e do corpo
conjugadas para serem cordas que lancem
longe nossas palavras e ações como flechas.
A virtude, enfim, é a potência prática
e ética que educa, liberta e, quando preciso, enfrenta as tiranias.
Amor, amizade, alegria, indignação,
coragem...são afetos. Mas esses afetos só se transformam em ação concreta sobre
o mundo se , entrando no coração do nosso desejo, converterem-se também em
virtudes, isto é, em força que age.
Uma das principais virtudes em
Espinosa é a “fortaleza”. Essa virtude lembra a “edificação” de Epicteto: quando
nos querem de joelhos, precisamos edificar e pôr de pé fortalezas.
Uma fortaleza não precisa de muros ou
cercas: a flor de lótus desabrocha e
persevera sendo ela mesma a despeito de ao redor dela predominar a lama. A fortaleza da flor de
lótus é a força que lhe é imanente, e
que a lama não turva ou toca. Na sabedoria oriental a flor de lótus é
considerada o símbolo da sabedoria
prática.
Epicteto foi feito escravo em Roma ,
como aqui Dandara e Zumbi . A filosofia foi, para Epicteto, a sua Palmares:
quando o poder quer nos agrilhoar (
simbólica ou fisicamente ), são
Quilombos que precisamos edificar, dentro e fora da gente.
Não por acaso, na língua banto “fortaleza” é
“quilombo”.
( imagem: ao Dia da Consciência Negra
)
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