A paranoia é um delírio sobretudo auditivo. O paranoico ouve
vozes que alimentam seu delírio, um
delírio preponderantemente masculino, de um masculino tóxico surdo
ao feminino.
O fascismo é uma forma de paranoia
que acomete uma massa de ressentidos que se arrebanham no ódio delirante contra
grupos que são estigmatizados e
demonizados como “inimigos”.
São raros poetas ou músicos paranoicos, é mais
comum a paranoia em generais autoritários , juízes vingativos, capitalistas
monopolistas, moralistas hipócritas , religiosos
teológicos-políticos, enfim, naqueles que têm ou buscam o poder “acima de tudo”,
demonizando a potência democrática partilhada entre todos.
A televisão é uma máquina voyeur-narcísica,
porém o whatsapp é um dispositivo que
pode arrebanhar paranoicos .
Como se vê nesse obscuro Brasil do “submundo virtual”, o “zap” pode servir a paranoias já instaladas em quem tem a
disposição para o ódio delirante, seja por motivos pessoais, religiosos ou
políticos.
A tevê se apoia principalmente na imagem visual, porém o “zap” que instrumentaliza
delírios paranoicos é sobretudo voz, uma voz que fomenta , difunde e confirma delírios paranoicos já instalados ou
produzidos para fins teológicos-políticos.
Como se sabe, a paranoia é um delírio
auditivo no qual a realidade é negada
por uma voz sem realidade concreta, nascida que é de uma fantasia mórbida persecutória.
Estamos vendo isso nessas
manifestações golpistas: embora estejam na rua, os golpistas-delirantes vivem
com o ouvido grudado no zap, pois é a “voz do zap” que confirma seus delírios
paranoicos negacionistas da realidade: diante dos olhos deles está um muro de
quartel, porém a voz delirante berra em seus ouvidos que ali é o muro do “templo
das lamentações”, e que eles devem se ajoelhar e clamar pelo Messias-Milico-Miliciano...
A maioria dos fanáticos que usam o “zap”
dessa forma doentia quase nunca escrevem
ou leem mensagens , pois eles têm pouca
ou nenhuma proximidade com a escrita enquanto
instrumento simbólico-social para
leitura e interpretação do mundo.
Os fascistas-paranoicos preferem o áudio enquanto vocalização de um
imaginário paranoico , como o dos “tios do zap”( quase sempre, a paranoia eclode
na meia-idade, sendo agravada por ressentimentos mal curados , frustações mal
resolvidas e espírito de vingança
acumulado ).
Não por acaso, o rádio foi o meio de
comunicação muito usado por Hitler e Mussolini. Pois a palavra de ordem
paranoica depende da voz autocrática berrada , perdendo força persuasiva quando
escrita.
Mas não é qualquer voz que serve a
delírios paranoicos que ameaçam a pluralidade social. A voz paranoica é preponderantemente
voz masculina, patriarcal, falocrática ; voz que grita numa retórica raivosa que lembra a retórica berrante e monocrática de Hitler.
Essa “voz do zap” não é uma voz que
se alterna à escuta para assim trocar perspectivas num diálogo e conversa. Essa
“voz do zap” não é a voz autêntica das ruas. E não podemos deixar que ela fale
mais alto ou tente calar a nossa voz que, democraticamente, se fez ouvir nas urnas.
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