terça-feira, 15 de novembro de 2022

a "voz do zap"...

 

A paranoia  é um delírio sobretudo auditivo. O paranoico ouve vozes que alimentam seu delírio,  um delírio preponderantemente  masculino,  de um masculino  tóxico  surdo ao feminino.

O fascismo é uma forma de paranoia que acomete uma massa de ressentidos que se arrebanham no ódio delirante contra grupos  que são estigmatizados e demonizados como “inimigos”.

São  raros poetas ou músicos paranoicos, é mais comum a paranoia em generais autoritários , juízes vingativos, capitalistas monopolistas,  moralistas hipócritas , religiosos teológicos-políticos, enfim, naqueles que têm ou buscam o poder “acima de tudo”,  demonizando  a potência democrática partilhada entre todos.

 A televisão é uma máquina voyeur-narcísica, porém o whatsapp é um dispositivo  que pode arrebanhar paranoicos .

Como se vê nesse obscuro Brasil  do “submundo virtual”,  o “zap” pode  servir  a paranoias já instaladas em quem tem a disposição para o ódio delirante, seja por motivos pessoais, religiosos ou políticos.

 A tevê se apoia principalmente na  imagem visual, porém o “zap” que instrumentaliza delírios paranoicos é sobretudo voz, uma voz  que fomenta , difunde e  confirma delírios paranoicos já instalados ou produzidos para fins teológicos-políticos.

Como se sabe, a paranoia é um delírio  auditivo no qual a realidade é negada por uma voz sem realidade concreta, nascida que é de uma fantasia mórbida persecutória.

Estamos vendo isso nessas manifestações golpistas: embora estejam  na rua, os golpistas-delirantes   vivem com o ouvido grudado no zap, pois é a “voz do zap” que confirma seus delírios paranoicos negacionistas da realidade: diante dos olhos deles está um muro de quartel, porém a voz delirante berra em seus ouvidos que ali é o muro do “templo das lamentações”, e que eles devem se ajoelhar e clamar pelo Messias-Milico-Miliciano...

A maioria dos fanáticos que usam o “zap” dessa forma doentia  quase nunca escrevem ou leem mensagens , pois eles  têm pouca ou nenhuma proximidade  com a escrita enquanto instrumento  simbólico-social para leitura e interpretação do mundo.

 Os fascistas-paranoicos  preferem o áudio enquanto vocalização de um imaginário paranoico , como o dos “tios do zap”( quase sempre, a paranoia eclode na meia-idade, sendo agravada por ressentimentos mal curados , frustações mal resolvidas  e espírito de vingança acumulado ).

Não por acaso, o rádio foi o meio de comunicação muito usado por Hitler e Mussolini. Pois a palavra de ordem paranoica depende da voz autocrática berrada , perdendo força persuasiva quando escrita.

Mas não é qualquer voz que serve a delírios paranoicos que ameaçam a pluralidade social. A voz paranoica é preponderantemente voz masculina, patriarcal, falocrática ; voz que  grita numa retórica raivosa que lembra a  retórica  berrante e monocrática de Hitler.

Essa “voz do zap” não é uma voz que se alterna à escuta para assim trocar perspectivas num diálogo e conversa. Essa “voz do zap” não é a voz autêntica das ruas. E não podemos deixar que ela fale mais alto ou tente calar a nossa voz  que, democraticamente, se fez ouvir nas urnas.

 

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