quinta-feira, 10 de novembro de 2022

o autêntico sertanejo

 

Quando  bem jovem , aprendi a gostar de rock ( progressivo) , da MPB pensante , de música clássica, de jazz...Mas eu também gostava da autêntica música caipira, hoje rebatizada de “música sertaneja”. Porém, não é a mesma coisa a autêntica música caipira e a atual música sertaneja.

Sem dúvida, a autêntica música caipira também é sertaneja, pois ela nasce desses imensos sertões do Brasil. Mas o mesmo não pode ser dito da atual música sertaneja.

Um fato pode ilustrar o que quero dizer: aqui no Rio, em plena Barra da Tijuca, há uma churrascaria famosa chamada “Montana Grill”. Os donos dessa churrascaria são cantores sertanejos que posaram recentemente ao lado do miliciano.

O nome da churrascaria revela o inconsciente colonizado deles: Montana é sertão, mas sertão dos Estados Unidos...

Além disso,  os autênticos caipiras  daqui usam chapéus e calçados muito diferentes do chapéu e botas de vaqueiro do Arizona que tanto gostam de ostentar  os sertanejos adoradores  de Montana e do “fascio”.

O Movimento Antropofágico Modernista dizia que a cultura urbana brasileira nasceu do ato de devorar ativamente a cultura estrangeira, para assim assimilar o que vem de fora  e (re)inventar o nosso jeito, a nossa maneira.

A música sertaneja cujo  referencial é Montana revela algo antropofágico também, porém de alguém  que foi devorado passivamente pela indústria cultural estadunidense , mastigado como chiclete clicheroso e depois cuspido  como produto musical descartável.

No ato Antropofágico Modernista somos nós que devoramos, de forma crítica e criativa, o que vem de fora; já o  sertanejo que virou trilha sonora do fascismo é ele que é devorado pelo que vem de fora, pelo que de pior há nesse fora, nascendo assim uma traição ao caipira autêntico ( que não devora o que vem de fora, e sim  canta a alma simples , porém rica, do interior do Brasil, de um Brasil que ainda resiste , na agricultura familiar , ao poder do agronegócio miliciano-sertanejo ).

Disse isso tudo para revelar que muito senti outra perda que tivemos ontem: a do artista Rolando Boldrin, grande contador de “causos” da fala popular-cabocla-caipira, cuja origem remonta à ancestral  cultura oral dos nossos indígenas.













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