Hoje me lembrei de uma belíssima aula de Cláudio Ulpiano na
qual ele narrava algo extraordinário que fazia não um poeta , um educador
ou um libertário, mas a reunião de um
poeta, de um educador e de um libertário
num único ser alado e canoro: o passarinho tordo.
Quando vem o fim da tarde, esse poeta
da natureza sobe ao galho mais elevado de sua árvore e canta para o sol que lhe
dera um dia. É um canto de resistência e
afirmação da vida, um canto de “Amor Fati”, seja o que for que tenha acontecido
naquele dia.
Quando o sol se põe, na borda do céu
perto do horizonte tudo fica colorido de púrpura. O púrpura nasce da composição
da cor azul, a cor dos celestamentos ( diria
Manoel de Barros) , com o vermelho, cor da vida, cor do sangue ( não
enquanto este é derramado na violência e barbárie, mas quando corre nas veias e
irriga o corpo de oxigênio, alimento e vida ).
Quando o tordo assim canta, ele corre
riscos. Pois soturnas aves de rapina ficam
à espreita para predar o tordo-libertário. Mesmo correndo riscos, o tordo não se cala e , cantando, se
horizonta ao céu-púrpura aberto e ilimitado.
Hoje, 14 de novembro, Cláudio Ulpiano
faria 90 anos. Tive a alegria de ter sido seu aluno e amigo. Este texto é uma pequena
homenagem a Cláudio, cujas aulas são verdadeiros cantos de tordo que horizontam caminhos.
Viva Cláudio Ulpiano!
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