segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Cláudio Ulpiano: 90 anos.

 

Hoje me lembrei  de uma belíssima aula de Cláudio Ulpiano na qual ele narrava algo extraordinário que fazia não um poeta , um educador ou  um libertário, mas a reunião de um poeta, de um educador e de um libertário  num único ser alado e canoro: o passarinho tordo.

Quando vem o fim da tarde, esse poeta da natureza sobe ao galho mais elevado de sua árvore e canta para o sol que lhe dera um dia. É um canto de resistência  e afirmação da vida, um canto de “Amor Fati”, seja o que for que tenha acontecido naquele dia.  

Quando o sol se põe, na borda do céu perto do horizonte tudo fica colorido de púrpura. O púrpura nasce da composição da cor azul, a cor dos celestamentos ( diria   Manoel de Barros) , com o vermelho, cor da vida, cor do sangue ( não enquanto este é derramado na violência e barbárie, mas quando corre nas veias e irriga o corpo de oxigênio, alimento e vida ).

Quando o tordo assim canta, ele corre riscos. Pois soturnas aves de rapina ficam  à espreita para predar o tordo-libertário. Mesmo correndo  riscos, o tordo não se cala e , cantando, se horizonta ao céu-púrpura aberto e ilimitado.

Hoje, 14 de novembro, Cláudio Ulpiano faria 90 anos. Tive a alegria de ter sido seu aluno e amigo. Este texto é uma pequena homenagem  a Cláudio, cujas aulas são  verdadeiros cantos de tordo que  horizontam caminhos.

Viva Cláudio Ulpiano!




 

 

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