Em “Crime em castigo”, pela boca de
um dos personagens do livro, Dostoiévski dizia que o corpo de Napoleão parecia
ser feito não de carne e osso , mas de
bronze.
Assim, quando Napoleão morreu ele se
tornou finalmente o que sempre foi: uma
estátua dura e fria , um monumento de
bronze erguido à loucura desmedida da ambição.
Curiosamente, quando pediram certa
vez a Manoel de Barros para que
definisse sua poesia, o poeta disse: “Meus poemas são tentativas para monumentar
passarinhos, arraias, ninhos, caracóis, formigas, coisinhas do chão...”
Em Manoel, monumentar não é exaltar
Napoleões, mas dar dimensão existencial ampla a tudo o que é pequenino: “as
grandezas do ínfimo”, explica-se o poeta.
Se em Napoleão o corpo é de bronze e
a alma é bélica, em Manoel o corpo é potência poética acompanhada de uma alma que fortalece a nossa para outras batalhas, nas quais se
luta por educação, arte e vida digna.
Ao monumentar seus seres poéticos-pequeninos,
o poeta se engrandece, se monumenta e permanece entre nós: não como estátua morta, e sim enquanto criatividade
que potencializa nosso pensar e sentir, monumentando tudo aquilo que o poder das
armas , do dinheiro e da ignorância tenta destruir.
(Imagem: Manoel também foi
“monumentado” na companhia de dois “pequeninos” : um passarinho no ninho e
um caracol . O poeta agora se encontra numa simpática pracinha sob
frondosa árvore. Enquanto o Napoleão belicoso parecia ter o corpo frio do
bronze, Manoel-monumentado faz até o bronze sorrir como gente ,
expressando um coração generoso que a todos recebe e aquece. A escultura é de autoria de Ique Woitschach)
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