1. Quando eu fazia o antigo segundo
grau, o diretor do colégio era simpatizante da ditadura. Eu e meus amigos
queríamos organizar um Diretório Acadêmico, mas o autoritário diretor proibia.
Então, a gente pôs em prática um
plano: fingimos criar um grupo de teatro, quando na verdade a gente
empregava o espaço do auditório para
conversar sobre política, filosofia, artes , enfim, coisas que a ditadura
proibia.
Quando o diretor vinha nos “patrulhar”
, a gente fingia que estava ensaiando uma peça. Ameaçadoramente, ele interpelava: “Cadê o roteiro!?”, e a gente
respondia: “É Beckett : obra livre sem roteiro...” O diretor-autoritário ia
embora desconfiado, enquanto a gente ria...
Certa vez entrou no auditório um homem que a gente
nunca viu antes. Após colocar um livrinho na mão de cada um de nós, o tal
homem falou: “Isso parece livro, mas na verdade é chave para abrir algemas”. E completou: “Não deixem ninguém ver vocês com
esse livro...”Depois ele se foi
como veio: incógnito.
Era um livrinho mimeografado,
clandestino. Na capa estava escrito: “Manifesto Comunista”, de Karl Marx e Friedrich
Engels.
Quando comecei a ler, levei um susto: eu não sabia que palavra podia ter força para pôr abaixo a ordem injusta mantida pelos homens poderosos...
Até então, na sala de aula nos eram apresentadas palavras que pareciam já estar mortas há muito tempo: nada diziam de novo e nem incomodavam o poder estabelecido. Mas as palavras do livrinho clandestino pareciam ter pernas, braços, coração, coragem...e um desejo irrefreável de mudar o mundo.
2.Marx dizia que sua filosofia visava
realizar três reconciliações:
- A reconciliação do homem com a
natureza : não só a natureza externa,
mas igualmente a natureza que o próprio
homem é e que se expressa em seu corpo. Assim, reconciliar o homem com a
natureza também é reconciliar a mente com o corpo, a razão com o desejo, o
intelectual com o sensório.
- A reconciliação do homem com o
homem: essa reconciliação requer a superação imediata do capitalismo , que faz
do homem “o lobo do outro homem”. Ao invés do “império do meu”, criarmos a “comunidade do nosso”.
- A reconciliação da essência com a
existência: essa reconciliação pressupõe que se una teoria pensante e práticas emancipatórias , para assim se vencer
as ideologias alienantes e o agir mecanizado mantenedores desse atual
sistema desumanizado que reduz o ser
humano a coisa que se compra, vende, usa e descarta.
Somente com essas três reconciliações
começaríamos, enfim, a História. Pois o que temos até hoje, segundo Marx , é apenas trevosa pré-história onde
vigoram a destruição da natureza, a coisificação do
ser humano e a sujeição da feminina-Terra ao poder patriarcal e predador do
Capital.
( este é um dos melhores livros de
apresentação da vida e pensamento de Marx. Vivendo sob imensas dificuldades
financeiras enquanto produzia sua obra, Marx alugava seu casaco durante o
inverno para obter algum recurso e alimentar sua família )
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