Quando eu fazia o antigo ginásio ( eu
devia ter 10 ou 11 anos), a ditadura
militar ainda dominava tudo com mão de ferro.
Mas uma querida professora de Língua
& Literatura conseguiu, apesar da censura e treva dominantes no país, essa
querida professora conseguiu nos despertar para o pensamento crítico e
criativo, adotando um livro que trazia letras de música para a gente ler e
interpretar, letras que faziam sentir e pensar.
Foi nesse livro que conheci a letra
de canções como "Janelas abertas nº
2" , "Construção" , “Pra
não dizer que não falei das flores” e “Roda Viva” , antes de ouvi-las tempos depois na voz dos cantores e cantoras.
Canções assim eram censuradas pelos sisudos milicos,
que sempre me pareceram um tipo de ser que detesta música que faz a gente
cantar junto. Os milicos diziam , em tom
de ameaça, que músicas assim eram "subversivas"
( e eu, até ali, não entendia muito bem o que significava "subversivo"...).
Então, foi como poesia que conheci essas
letras. Na primeira vez que li essas letras-poemas naquela sala de aula de uma
escola pública no subúrbio carioca, graças à resistência perseverante de minha
querida professora, dentro de minha
cabeça aconteceu o que Deleuze chama de "noochoque" : um
"choque de pensamento".
Foi a partir de então que a minha
"pequena voz interior" , que ficava muda imaginando-se sozinha naquele mundo de gente autoritária ,
essa minha voz encontrou na voz poética e pensante daquelas músicas o sentido e
a força para cantar junto.
Foi ali que descobri o que até hoje não paro de redescobrir : que
tudo aquilo que faz pensar e vence a opressão
é sempre subversivo . E quando os autoritários de ontem e de hoje nos
querem calar, nada mais subversivo do que cantar junto.
“Descanse
tranquilo onde cantam,
os maus não cantam. ” (Schiller)
“Poesia é subversão da linguagem.”
(Manoel de Barros)
"O que vemos não é o que vemos, senão o que somos."( Fernando Pessoa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário