sábado, 7 de maio de 2022

canções para pensar, cantando

 

Quando eu fazia o antigo ginásio ( eu devia ter  10 ou 11 anos), a ditadura militar ainda dominava tudo com mão de ferro.

Mas uma querida professora de Língua & Literatura conseguiu, apesar da censura e treva dominantes no país, essa querida professora conseguiu nos despertar para o pensamento crítico e criativo, adotando um livro que trazia letras de música para a gente ler e interpretar, letras que faziam sentir e pensar.

Foi nesse livro que conheci a letra de canções  como "Janelas abertas nº 2" ,  "Construção" , “Pra não dizer que não falei das flores” e   “Roda Viva” , antes de ouvi-las  tempos depois na voz dos cantores e cantoras.

Canções   assim eram censuradas pelos sisudos milicos, que sempre me pareceram um tipo de ser que detesta música que faz a gente cantar junto.  Os milicos diziam , em tom de ameaça, que músicas assim  eram "subversivas" ( e eu, até ali, não entendia muito bem o que significava "subversivo"...).

 Então, foi como poesia que conheci essas letras. Na primeira vez que li essas letras-poemas naquela sala de aula de uma escola pública no subúrbio carioca, graças à resistência perseverante de minha querida professora, dentro de minha  cabeça aconteceu o que Deleuze chama de "noochoque" : um "choque de pensamento".

Foi a partir de então que a minha "pequena voz interior" , que ficava muda imaginando-se  sozinha naquele mundo de gente autoritária , essa minha voz encontrou na voz poética e pensante daquelas músicas o sentido e a força para cantar junto. 

Foi ali que descobri  o que até hoje não paro de redescobrir : que tudo aquilo que faz pensar e vence a opressão  é sempre subversivo . E quando os autoritários de ontem e de hoje nos querem calar, nada mais subversivo do que cantar junto.

 

 “Descanse  tranquilo onde cantam,

   os maus não cantam. ” (Schiller)

 

“Poesia é subversão da linguagem.” (Manoel de Barros)


"O que vemos não é o que vemos, senão o que somos."( Fernando Pessoa)







 


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