quarta-feira, 11 de maio de 2022

o cuidado

 

Uma das frases mais famosas da filosofia é : “Conheça-te a ti mesmo”, de Sócrates. Mas a fala inteira de Sócrates diz mais ou menos o seguinte: “Conheça-te a ti mesmo, saiba que você é uma alma.”  Ou seja, Sócrates deixa de fora o corpo nesse (auto)conhecimento que ele ensina.

Que me perdoe Sócrates, mas gosto mais deste  pensamento: “Cuida de ti mesmo”, de Epicuro. E esse cuidado deve implicar nosso ser inteiro, incluindo nosso corpo.

Corpo não é apenas  músculos , corpo também é, sobretudo, terminação nervosa onde a alma encontra o corpo e se tornam unos. A sensibilidade pensante também é corpo.

Mas ter cuidado nesse sentido  não é ter medo ou receio e deixar de agir.  Não por acaso, Espinosa fez do cuidado o afeto básico de sua ética, pois o cuidado é o afeto que acompanha todo agir libertário.

 Todo cuidado é prática necessária que deve envolver tudo aquilo que é frágil. “Frágil” não é a mesma coisa que “fraco”. Frágil é tudo aquilo que precisa do futuro para crescer e alcançar sua plena potência e realidade.

Por exemplo, a semente é frágil : a árvore futura que está na semente apenas surgirá se a semente for cuidada, isto é, plantada, regada...E após o broto nascer, é preciso ainda cuidado para afastar as ervas daninhas. A criança também é frágil: ela precisa do cuidado da educação, do amor e do afeto para que ela se torne tudo o que tem a potência para ser.

Fraco, ao contrário, é tudo aquilo que precisa da força bruta para se impor. As ideias são frágeis, porém fraca é a mente que nos ameaça com intolerâncias; a palavra é frágil, mas fraca é a voz que apenas ameaça e berra, pois nada tem a dizer.

Frágil é tudo aquilo que depende do futuro, mas a prática do cuidado não pode ser deixada para amanhã: é sempre aqui e agora, já, que o cuidado se torna necessário, exatamente para que haja um amanhã.

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