Uma das frases mais famosas da
filosofia é : “Conheça-te a ti mesmo”, de Sócrates. Mas a fala inteira de
Sócrates diz mais ou menos o seguinte: “Conheça-te a ti mesmo, saiba que você é
uma alma.” Ou seja, Sócrates deixa de
fora o corpo nesse (auto)conhecimento que ele ensina.
Que me perdoe Sócrates, mas gosto
mais deste pensamento: “Cuida de ti
mesmo”, de Epicuro. E esse cuidado deve implicar nosso ser inteiro, incluindo
nosso corpo.
Corpo não é apenas músculos , corpo também é, sobretudo,
terminação nervosa onde a alma encontra o corpo e se tornam unos. A
sensibilidade pensante também é corpo.
Mas ter cuidado nesse sentido não é ter medo ou receio e deixar de agir. Não por acaso, Espinosa fez do cuidado o afeto
básico de sua ética, pois o cuidado é o afeto que acompanha todo agir
libertário.
Todo cuidado é prática necessária que deve
envolver tudo aquilo que é frágil. “Frágil” não é a mesma coisa que “fraco”.
Frágil é tudo aquilo que precisa do futuro para crescer e alcançar sua plena
potência e realidade.
Por exemplo, a semente é frágil : a
árvore futura que está na semente apenas surgirá se a semente for cuidada,
isto é, plantada, regada...E após o broto nascer, é preciso ainda cuidado para
afastar as ervas daninhas. A criança também é frágil: ela precisa do cuidado da
educação, do amor e do afeto para que ela se torne tudo o que tem a potência
para ser.
Fraco, ao contrário, é tudo aquilo
que precisa da força bruta para se impor. As ideias são frágeis, porém fraca é
a mente que nos ameaça com intolerâncias; a palavra é frágil, mas fraca é a voz
que apenas ameaça e berra, pois nada tem a dizer.
Frágil é tudo aquilo que depende do
futuro, mas a prática do cuidado não pode ser deixada para amanhã: é sempre
aqui e agora, já, que o cuidado se torna necessário, exatamente para que haja
um amanhã.
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