Segundo Espinosa, são três os afetos
originários: o desejo, a alegria e a tristeza. Depois Espinosa acrescenta mais
dois afetos básicos: o amor e o ódio. O amor e o ódio vêm depois porque eles
são afetos que dependem de objetos, ao passo que alegria e tristeza são processos
internos ( por isso , são chamados “paixões”: paixões alegres e paixões tristes).
O desejo, a alegria, a tristeza , o amor e o ódio: esses são os afetos
principais dos quais todos os outros afetos decorrem . Alegria e tristeza, amor
e ódio formam pares antagônicos, porém o desejo é único, ímpar. Espinosa também
diz que “O desejo é a essência do homem.” Essa essência varia aumentando ou
diminuindo , se potencializando ou se despotencializando, conforme a existência
que levamos. A essência ( o desejo) expressa nossa singularidade, enquanto que nossa existência se traduz nos encontros
que fazemos. Amor e ódio são afetos nascidos dos encontros , encontros esses
que aumentarão ou diminuirão o nosso desejo, a nossa essência. Os bons
encontros geram amor e alegria: o desejo se intensifica; os maus encontros acarretam ódio e tristeza:
o desejo se enfraquece. Como o desejo é vida, é a vida que é aumentada ou
diminuída conforme os encontros que fazemos. A tristeza e o ódio não fazem
parte da essência , pois a essência é o desejo. Porém, como a essência em
Espinosa não vive apartada da existência ( como acontece em Platão e no
restante da filosofia), a tristeza e o ódio podem enfraquecer a tal ponto o
desejo que este pode até mesmo desejar se submeter à tristeza e ao ódio, como
se esses fossem sua essência, gerando assim a servidão. Contudo, Espinosa não
demoniza a tristeza e o ódio, tais afetos fazem parte da existência humana,
eles não são “pecados” , nem mais fortes que a alegria e o amor. A tristeza e o
ódio fazem parte da existência humana tal como os relâmpagos e as tempestades
fazem parte da existência do céu. Mas o céu não é só relâmpago e tempestade, o
céu também pode ser de azul claro e translúcido: o céu também pode ser de alegria. Em latim, “desejo” é “cupiditas”:
“relativo a Cupido”. Diferentemente do “Eros” grego, que abandonou Afrodite (o corpo) para ficar apenas com Psiquê ( a alma), o Cupido latino é , ao mesmo
tempo, alma e corpo ( e os une). Segundo
ainda Espinosa, somente um afeto afirmador da vida pode vencer um afeto que a
enfraquece. Os raciocínios são importantes, porém não é racionalizando a
tristeza e o ódio que se pode vencê-los, pois os afetos também se enraízam no corpo, e o
corpo é infenso a raciocínios. Quando a gente compreende as razões de existirem
a tristeza e o ódio ( e compreender é mais do que racionalizar, teorizar ou julgar), dessa compreensão nasce
uma alegria que vence a própria tristeza que nos impedia de pensar e agir.
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