O filósofo Leibniz dizia que se a
gente prender uma semente na mão, com o
tempo ela apodrece. Mas se a gente plantar a semente, cuidar e cultivar, dela
nascerá uma árvore. Da árvore nascerão incontáveis frutos : dentro de cada um,
uma nova semente. Se a gente plantar essas novas sementes, delas nascerão outras árvores, cada uma com
inumeráveis frutos, cada um grávido de novas sementes. Naquela primeira semente
havia virtualmente uma floresta inteira , uma floresta-potência, assim
como em uma criança está a humanidade à
espera de crescer. Pois humanidade não é uma quantidade numérica afim a rebanhos, mas uma potencialidade inseparável
de nossa singularidade, e que se
cultiva com educação, afeto e liberdade
. Para uma potencialidade florescer, da semente ou de uma criança, é preciso um
exercício de cuidado e um espaço aberto livre de estreitezas. Dentro de uma
ideia viva há outras ideias, infinitas
ideias, pois toda ideia viva é plural e múltipla, já nos ensinava Espinosa.
A motosserra literal com a qual se
armam os fascistas para derrubarem as florestas, essa motosserra literal é a abominável
e criminosa representante de outra
motosserra, uma motosserra simbólica com
a qual os obscurantistas ameaçam as florestas virtuais ainda nem nascidas, nas
crianças e em nós. Tanto num caso como noutro,
o objetivo é desertificar a floresta,
desertificar as ideias , para assim
fazer “passar a boiada” e tudo tornar
rebanho dócil.
Enquanto os obscurantistas se armam
com motosserras, educadores, poetas e artistas plantam
ideias-sementes libertárias . E sempre continuarão plantando, mesmo que em
torno cresça o deserto. Indignação e resistência também são sementes. E que não tarde a ação que precisa germinar
delas.
“Poeta é ser que vê semente germinar.
Nas fendas do insignificante ele procura grãos de sol. ”
(Manoel
de Barros)
( imagem: "O semeador" / de Van Gogh)
É interessante
como que nessa obra de Van Gogh o próprio sol parece um girassol que acabou de
brotar de uma semente . A semente da qual brota o sol é o próprio céu aberto (
que o sol inunda de um amarelo vivo, incontível...). O sol da pintura é sol
nascente, sol que inaugura um dia novo: carpe diem. Perto desse sol, uma
casinha simples, azul. Talvez seja ali que more o semeador, que escolheu
fazer morada perto do horizonte. Ele semeia
em uma paisagem aberta, “horizontada”, como diria Manoel de Barros. Assim como
naquela terra, algo em nós é semeado.
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