domingo, 13 de setembro de 2020

a academia, o liceu e os jardins

 

( Com a pandemia, uma certeza fica ainda mais clara: a educação pública e presencial é mais do que necessária, é insubstituível; e mostra o quanto é absurda e criminosa a proposta do poder teológico-político de acabar com a escola e professores para manter apenas educação em casa)

 

Há três modelos de educação: a Academia, o Liceu e os Jardins. Foi Platão quem inventou a Academia. Na porta da Academia Platão afixou a seguinte placa: “Só pode entrar aqui quem for geômetra”. Assim, na Academia de Platão somente eram ensinadas coisas exatas: fórmulas, dogmas, gramáticas . Os poetas eram proibidos de entrar lá. Já o Liceu é obra de Aristóteles. Este queria mostrar que há ordem não apenas na matemática, a ordem também existe na própria natureza. Para provar isso, Aristóteles recolhia flores de uma mesma espécie e dizia: “apesar de cada indivíduo ser diferente, todos nasceram de um mesmo molde : tudo o que existe se explica por uma Identidade-Padrão". Quando um aluno mais curioso ia explorar o mundo e aparecia com uma flor diferente, uma flor única e rara, Aristóteles mandava jogar a flor fora, alegando que a diferença é um erro da natureza que nos afasta da Razão. Foi Epicuro que aprendeu a fazer dos jardins salas de aula: como espaço aberto à natureza multivariada. E as flores diferentes que a Razão homogeneizante desprezava , Epicuro as acolhia em seu jardim, as plantava e regava. Ao invés de tabuada e gramática, cantos e cores; no lugar de moral e cívica, ética e artes . Não apenas a alma dizia “presente” na hora da chamada, também dizia “presente” o corpo, com a vida intensificada. A ideia de “jardim” sobreviveu ao tempo e às perseguições , e sua semente ainda vive nos nossos “jardins de infância”. Havia algo da infância nos jardins de Epicuro, como (re)invenção de um devir-criança , feito a “não velhez” do poeta Manoel de Barros . Hoje, a academia se tornou sinônimo de universidade, isso é fato. Os fascistas querem que nela se ensinem apenas cartilhas e tabuadas, ordens exatas que adestrem para o “mercado”. A universidade é composta de bibliotecas , laboratórios , refeitórios, isto é, coisas físicas, e mais os educadores, funcionários e estudantes, a sua parte viva. Quando todos se unem para proteger e intensificar essa vida, mostrando ao povo que o saber ali produzido também faz parte de sua vida, a universidade então sai dos muros da academia, ganha praças e ruas, e se torna novamente Jardim de Epicuro: conhecimento que potencializa a vida.

 

(foto partilhada da página A UFF pela Democracia. Este rapaz da foto se chama Elcimar Moreira da Silva , ele é estudante de Física da UFF )



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