Em grego, há vários nomes para a
“alma”. O mais original deles é
“Psiquê”. Não por acaso, na mitologia
Psiquê era o nome próprio de uma jovem. Diferentemente do termo “Razão”, princípio masculino , Psiquê não é o
nome de apenas uma parte da alma, mas da
alma inteira. Psiquê não era somente
raciocínio e teoria. Ela era isso também e mais sensibilidade,
intensidade, beleza , generosidade , coragem, coração e poesia. Enquanto a
Razão tem a pretensão de existir e
pensar sozinha ( exemplos disso são o
racionalista Descartes, com o seu
ensimesmado “Penso, logo existo”, e o rígido
Kant com sua “Razão Pura”) ,
Psiquê só se viu inteira quando encontrou sua companhia. A companhia de Psiquê
é Eros, o Amor. Esta palavra é a reunião da partícula “a” com função privativa
( como em “a-fasia”, “não fala”) mais a abreviação da palavra morte ( “mor”). Assim, no seu sentido
original, “amor” é “não morte” ( nos vários sentidos que a morte pode ter). Quando
lutamos pela não morte das florestas, pela
não morte dos povos originários, pela não morte da educação, enfim, pela não
morte de nós mesmos enquanto sociedade plural e heterogênea, lutamos mais fortes se o amor também nos fizer companhia.
É na companhia de Eros , agenciada com ele, que Psiquê resiste à morte; e é na companhia de Psiquê que Eros aprende que
ele mesmo não sabe tudo o que pode.
A
“alma” possui ainda outro nome: “Pneuma”.
Esta palavra costuma ser traduzida por “sopro”. Em latim, “spiritus”.
Porém pneuma, ou spiritus, não é o sopro
que a gente expira ( quando
colocamos o ar para fora). Pois pneuma designa o ar que a gente inspira, puxando o ar para dentro
de nós . Quando a gente expira, é a gente que sopra; mas quando a gente inspira
é a própria vida que sopra
dentro de nós. Quando o bebê sai do ventre e nasce, o ato que inaugura seu respirar é o
inspirar que o desperta para a vida.
Esse inspirar inaugural não é feito apenas pelo seu pequenino pulmão, mas por
todo seu corpo. Este é o sentido original de “inspiração”: “encher-se de vida
para intensificar a vida que vive em nós”, para assim não sufocarmos. Na
verdade, a tradução mais correta de “pneuma” não é “sopro”, e sim “brisa
úmida”, como aquela que , vinda do oceano, ao deserto vivifica.
"Por toda parte , estremecendo,
sentimos o mesmo Sopro gigantesco que,
escravizado, luta por libertar-se." ( Nikos Kazantzákis)
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