terça-feira, 22 de setembro de 2020

perséfone

 

Segundo a mitologia, Hades é o deus que habita a região escura muito abaixo da superfície da terra. Nesse lugar nenhuma luz entra. Certa vez, porém, Hades ouviu risos vindo da superfície. Ele subiu e viu Perséfone... Ela estava com sua mãe , a deusa Ceres. De “ceres” vem “cereal”, pois Ceres é a divindade do plantio e colheita dos cereais. Ceres é filha de Cronos, o Tempo, com Cibele, a deusa da fertilidade. E foi em sua neta Perséfone que a fertilidade de Cibele se tornou uma força criativa semelhante àquela que vemos no artista, pois Perséfone é a deusa cuja arte é fazer nascer flores. Perséfone mata outra fome diferente daquela que Ceres mata: Perséfone mata a fome de beleza, de poesia e de cores. Hades se apaixonou pelas flores e quis levá-las para enfeitar sua noite eterna. Foi uma imensa surpresa, pois ninguém imaginava que pudesse nascer no taciturno  Hades um desejo por cores. Ele raptou então Perséfone para fazê-la morar lá embaixo . Porém, naquele mundo carente de luz , de Perséfone nasciam rosas só com espinhos , sem as pétalas, flores da dor que elas eram. Enquanto isso, sentindo a falta de Perséfone, Ceres ficou deserta : o grão não mais germinava nela. Havia agora fome de pão e de beleza, de pão e de poesia, e ninguém sabia qual das duas fomes doía mais: a primeira esvaziava o estômago, a segunda ao coração secava . Zeus interveio e foi feito então um acordo. Durante parte do ano Perséfone viveria lá embaixo com Hades : sua ausência entre nós recebeu o nome de inverno. Até que vem o ansiado tempo em que Perséfone sobe de volta  e enche de vida a terra :  tudo recomeça , renovado. Hoje, a treva não está somente lá embaixo,  treva pior  nos ameaça aqui em cima.  Apesar disso, nada detém  Perséfone: hoje, 22 de setembro, começa a  primavera, tempo em que Perséfone chega para florir de vida  a terra.

 

“O céu da teoria é cinza;

mas sempre verdejante é a árvore da vida.” (Goethe)

 

- imagem: “O abraço amoroso de Pachamama ( a Mãe-Terra )”/ de Frida Kahlo.



E ontem foi Dia da Árvore. As mentalidades obscurantistas sempre desprezam a natureza, já nos ensinava  Espinosa. Esse desprezo é um sintoma de ódio à vida. Como homenagem às árvores tão ameaçadas, assim como os povos das florestas , um devir-árvore do poeta:


 




CANÇÃO DA PRIMAVERA / de Mário Quintana

 

Primavera cruza o rio

Cruza o sonho que tu sonhas.

Na cidade adormecida

Primavera vem chegando.

 

Catavento enlouqueceu,

Ficou girando, girando.

Em torno do catavento

Dancemos todos em bando.

 

Dancemos todos, dancemos,

Amadas, Mortos, Amigos,

Dancemos todos até

Não mais saber-se o motivo…

 

Até que as paineiras tenham

Por sobre os muros florido!


Nenhum comentário: