1-Uma das palavras mais bonitas em grego é “eudaimonia”. No
coração dessa palavra está o nome “Daimon”, pois “eudaimonia” é : “estar na
companhia de um bom Daimon”. Em
português, “eudaimonia” é traduzida pela
palavra “felicidade”.
Para os gregos, felicidade não é andar sozinho, mesmo que
seja em carruagem de ouro; felicidade é andar na companhia de um “bom Daimon”.
Na mitologia, o Daimon não mora no inacessível e
aristocrático Olimpo, o Daimon mora onde houver a necessidade de uma travessia,
pois ele é a divindade dos caminhos, sobretudo
dos caminhos que precisam ser criados, mesmo que no deserto ou para escapar de labirintos.
Para os gregos, assim
como para nossos povos indígenas, a
felicidade não é propriedade egoica de um indivíduo, a felicidade é
agenciamento coletivo: impossível o indivíduo ser feliz se a pólis está triste,
tampouco pode o indivíduo ter saúde com a pólis
doente.
“Companhia” vem de “com-panis”. E “panis” é, em português,
“pão”. Assim, fazer companhia é saber
“dividir o pão”. Companheiros: “aqueles que dividem o pão”.
Há o pão que alimenta o corpo, como aquele que faltou ao povo
e trouxe o sofrimento da fome. A
elitista Maria Antonieta, zombando, disse: “Não têm pão? Que comam brioches!”
Nasceu então no povo a fome por outro pão: o pão da justiça
social , pão que tem por fermento a arte, a educação e a poesia, pois poesia também é pão que alimenta a luta.
2- No livro “1984”, George Orwell mostra que
uma das táticas empregadas pelo
poder para se perpetuar (seja o poder fardado , seja o poder do
dinheiro) , é apagar certas palavras dos discursos e práticas, para assim
tentar apagar também a realidade que tais palavras designam.
Parece estar acontecendo isso com a palavra “trabalhador”,
que o poder do Capital tenta apagar colocando no lugar “colaborador” ,isto
é, colaborador do Capital que retira do próprio trabalhador a
consciência de seus direitos . Com isso,
propaga-se a ideologia de que o
outro trabalhador não é um companheiro, mas um “competidor”.
Neste dia em que se
comemora o “Dia do Trabalhador”, todos os filmes do diretor Ken Loach são uma
boa dica. Deixo aqui a sugestão de um filme dele. Em “Pão e Rosas”, as “rosas”
são a cultura, as artes, a educação, a
poesia .
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