Segundo o filósofo Heidegger, o mundo atual confunde o “diminuir
a distância” com o “criar proximidade”. A tecnologia diminui as distâncias, sem dúvida. Mas uma coisa é diminuir a distância entre seres
no espaço ( espaço presencial ou virtual), outra bem diferente é criar
proximidade com o sentido íntimo das coisas.
O ChatGPT diminui a distância entre
nossa mente e as informações depositadas na web, porém não creio que ele crie
proximidade existencial com o pensar
enquanto potência singular da mente.
O telescópio diminui a distância
entre a lua e nossos olhos, isso é fato. Porém, quando lemos o poeta
Manoel de Barros falando sobre a lua em seus versos , o poeta não põe a lua perto de nós
no espaço, mas ele a põe a tal ponto próxima que, empoemando-nos, experimentamos seu sentido também em nós,
no "devir-lunar" que
vivemos e nos tornamos.
E a lua crescente que Van Gogh pintou não é para
ver com telescópio, mas com olhos que sejam em nós também expressão da vida criativa crescente.
Quando Cartola canta que “as rosas não falam”, qual o sentido
dessas rosas? O que elas têm que não têm
as rosas que pomos em jarros? Um dia, as
rosas do jarro murcham, como tudo
aquilo que a arte não salva; porém ,
nunca morrem as rosas que a canção de Cartola nos põe próximos , a salvo. E basta
a gente cantar , estejamos alegres ou tristes, para que essas rosas desabrochem em
nossa voz como arte que, apesar de tudo, resiste.
“Não sou da informática, sou da invencionática”. (Manoel de Barros)
“Só a arte salva.” ( Deleuze)
(Imagem: “Paisagem com casal passeando e lua crescente”/ Van
Gogh)
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