sábado, 27 de maio de 2023

as rosas de Cartola e a lua crescente de Van Gogh

 

Segundo o filósofo  Heidegger, o mundo atual confunde o “diminuir a distância” com o “criar proximidade”. A tecnologia  diminui as distâncias, sem dúvida. Mas  uma coisa é diminuir a distância entre seres no espaço ( espaço presencial ou virtual), outra bem diferente é criar proximidade com o sentido íntimo das coisas.

O ChatGPT diminui a distância entre nossa mente e as informações depositadas na web, porém não creio que ele crie proximidade existencial  com o pensar enquanto potência singular da mente.

O telescópio diminui a distância entre a lua e nossos olhos, isso é fato. Porém, quando  lemos o poeta  Manoel de Barros  falando  sobre a lua em seus versos , o  poeta não põe a lua perto  de nós  no espaço, mas  ele a põe  a tal ponto próxima que, empoemando-nos,   experimentamos   seu sentido também  em nós,   no  "devir-lunar" que vivemos e nos tornamos.

E a  lua crescente que Van Gogh pintou não é para ver com telescópio, mas com olhos que sejam em nós também expressão da  vida criativa  crescente.

Quando Cartola canta  que “as rosas não falam”, qual o sentido dessas rosas? O que elas  têm que não têm as rosas que pomos em jarros? Um dia,  as rosas do jarro  murcham, como tudo aquilo  que a arte não salva; porém , nunca morrem as rosas que a canção de Cartola nos põe próximos , a salvo. E basta a gente cantar , estejamos alegres ou tristes, para que essas rosas  desabrochem   em nossa voz como arte que, apesar de tudo,   resiste.

 

 

“Não sou da informática, sou da invencionática”. (Manoel  de Barros)

“Só a arte salva.” ( Deleuze)

 

(Imagem: “Paisagem com casal passeando e lua crescente”/ Van Gogh)






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