quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

sofias...

 

 

Sócrates é considerado o maior filósofo de todos os tempos, embora nada tenha escrito. Sócrates filosofava nas ruas e praças, conversando com o povo.  Sócrates nunca diz ter aprendido com mestres,  exceto em certa ocasião em que  afirma ter sido aluno de uma filósofa: a sábia Diotima. Foi então uma mulher a mestre-educadora do maior filósofo.

 E a lição  que Diotima ensinou a Sócrates é uma das mais necessárias e decisivas, à filosofia e à vida. É uma lição  que ensina que a autêntica sabedoria não é apenas teórica, ela também deve ser  prática e ,   sobretudo, afetiva.

Diotima ensinou a Sócrates acerca de um “Daimon”: o “Eros”. O Daimon não é um deus que mora em altares ou Olimpos, tampouco vive  no submundo, sob a terra. O Daimon é um ser que habita o espaço “entre”: entre o Céu e a terra, entre o eterno e o temporal, entre o imorredouro  e as coisas que nascem e morrem.

O Eros-Daimon não é um deus que exige  cultos, ele é  uma força vital para exercícios de cuidados : cuidados consigo, com os outros e com o cosmos.

Pois Eros não fica parado na fronteira entre o tempo e eternidade, na verdade ele  auxilia na travessia de quem, estando no lado da fronteira onde tudo é inconstante e “líquido”, deseja porém alcançar, ainda em vida,  realidades que não morrem.

“Eros” significa tanto “amor” quanto “asas”. Mas as asas de Eros não são como as dos pássaros, e sim como as da borboleta: asas sutis e coloridas, asas que podem viajar longe , nascidas que são de uma metamorfose.

A travessia que Eros conduz não é feita em linha reta, mas  a partir de uma metamorfose. Como ensina o poeta Manoel de Barros: “A reta é uma curva que não sonha”. A borboleta é o sonho utópico da lagarta , um sonho que se tornou realidade efetiva, aqui e agora.

Contrariamente às asas de Ícaro,  presas nas costas  com engodo e sem estarem enraizadas em seu ser (asas que sobem para depois fazerem cair), as asas de Eros nascem nas costas e elevam não só a cabeça , mas todo o nosso ser.

Em grego, “felicidade” se escreve assim: “eudaimonia”. No coração dessa palavra está o termo “Daimon”. Assim, felicidade é : “estar na companhia de um Daimon”. Felicidade não é posse de coisas ,   felicidade é travessia que não se faz sozinho. E quem está na companhia do Daimon também aprende  a  auxiliar os outros a fazerem suas  travessias, andando ao lado.

Segundo Diotima, a filosofia não é , como dizem os homens-filósofos, apenas  “amor teórico à sabedoria”; a filosofia é , ao mesmo tempo, educação emancipadora para necessárias  travessias  e política libertária que conduz as sociedades em suas travessias democráticas, apesar dos muros  e ameaças  das tiranias.


“Não aprecio   seguir ou ser seguido: para me acompanhar aonde vou, é preciso aprender a amar andar ao lado.”( Nietzsche)






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