Nise da Silveira cita Bachelard
quando este dizia que nossa saúde mental , ou a falta dela, depende mais do que fazemos com nossas mãos do que
daquilo que teorizamos com nossa mente .
Talvez por isso
, depois de filosofar, Espinosa se dedicava a fabricar e polir
cuidadosamente lentes, como um simples artesão .
Após abstratos raciocínios lógicos,
Wittgenstein fechava os livros para ir
plantar flores no jardim de uma escola,
feito um jardineiro.
Deleuze costumava desenhar linhas de
fuga entre as aulas, nisso se assemelhando a um cartógrafo.
Plotino deixava seus solitários estudos metafísicos para ir alimentar com as próprias mãos pequenos
órfãos, como se fosse um cozinheiro.
Depois de escrever profundas páginas que , segundo dizem, até
lhe arrancavam lágrimas , Heráclito
construía lúdicos brinquedos de madeira
para as crianças, reinventando-se
carpinteiro.
Sobretudo para aqueles cujo
pensamento ousa ir muito longe em busca de terras novas, para ele não se
perder, é bom mantê-lo unido a mãos que tocam, transformam ou cuidam da
realidade próxima.
São essas mãos solidárias que também
nos protegem da “mão invisível” do
mercado (que apenas sabe contar
dinheiro, sem se importar eticamente de onde ele veio); e é igualmente de mãos dadas com essas mãos libertárias que podemos mais do que aqueles que, querendo nos pôr medo, imitam com a mão uma arma fascista , para nós apontada.
Enfim, somente mãos que conduzem, cuidam ,alimentam ou
transformam podem ser a afetiva âncora do pensamento no aqui e
agora, sem fazê-lo perder o horizonte aberto
para o qual sempre se desterritorializa e decola . Mãos que se ocupam em
mudar o mundo também nos saram.
“Poesia é Oficina de Transfazer a natureza.” (Manoel de
Barros)
“Em minha Ética, quero
explicar aquelas coisas que possam nos conduzir, como que pela mão.” (Espinosa)
( imagem: o gatinho da
Nise chamado “Carlinhos”, ela própria e Espinosa multicolorido)
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