sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

para onde aponta a bússola

Segundo Nietzsche, há filosofias do “sol nascente” : nestas filosofias,  o pensamento  é como o sol que nasce e ilumina a natureza que a noite obscura ocultava. As filosofias do sol nascente coincidem com a própria origem da filosofia:  assim foi a filosofia  dos pré-socráticos, como um sol nascente a revelar a natureza, a “physis”. Mas  existem também filosofias do “sol poente”, filosofias do ocaso: elas coincidem com a filosofia europeia, na qual este mundo em que vivemos hoje foi gerado. Essas filosofias substituíram a luz nascente da physis poética , tal como existia em Tales ou Heráclito,  pela luz poente da razão objetivista  , sendo o niilismo a sombra que acompanha essa luz pragmática e despoetizada.
Mas há ainda , segundo Nietzsche, a “filosofia dos hiperbóreos”. Entre os gregos , “bóreo” era o nome do vento mitológico conhecido como “vento do norte”. Esse vento por vezes também era chamado de “vento da morte” ( nos vários sentidos que a morte tem). Assim, o hiperbóreo era um lugar que ficava  além do que podia alcançar o vento bóreo, o vento da morte ( em grego, o prefixo “hiper” também significa: “o que está em lugar superior”). Os gregos diziam que para as  regiões hiperbóreas iam alguns deuses, como Apolo, quando queriam recuperar as forças. A região hiperbórea não é exatamente o norte da Europa,  e sim o limiar  desta . Na verdade não é para o norte , e sim para o hiperbóreo, o lugar para o qual toda bússola aponta. Mas  o que mais caracteriza a região hiperbórea da terra é que nela o sol  jamais morre : ele está sempre no horizonte e corre sobre as montanhas, horizontalmente. Na região hiperbórea é sempre amanhecer...   “Hiperbóreos”,  assim deveriam ser  os pensadores  do futuro, acreditava Nietzsche,    para assim vencerem o vento da morte que sopra contra  o pensamento e a diversidade, e   não se deixarem capturar pelo  niilismo  redutor da vida  ao dinheiro e ao mercado . Como reconhecer um hiperbóreo? Um hiperbóreo é aquele em cujo horizonte aberto o sol que nunca morre é a Arte.

( imagem: capa do livro “O fazedor de amanhecer”, do poeta
 Manoel de Barros)

   


       

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