Segundo Nietzsche, há filosofias do “sol
nascente” : nestas filosofias, o
pensamento é como o sol que nasce e ilumina
a natureza que a noite obscura ocultava. As filosofias do sol nascente
coincidem com a própria origem da filosofia: assim foi a filosofia dos pré-socráticos, como um sol nascente a
revelar a natureza, a “physis”. Mas existem também filosofias do “sol poente”,
filosofias do ocaso: elas coincidem com a filosofia europeia, na qual este
mundo em que vivemos hoje foi gerado. Essas filosofias substituíram a luz nascente
da physis poética , tal como existia em Tales ou Heráclito, pela luz poente da razão objetivista , sendo o niilismo a sombra que acompanha essa
luz pragmática e despoetizada.
Mas há ainda , segundo Nietzsche, a “filosofia
dos hiperbóreos”. Entre os gregos , “bóreo” era o nome do vento mitológico conhecido
como “vento do norte”. Esse vento por vezes também era chamado de “vento da
morte” ( nos vários sentidos que a morte tem). Assim, o hiperbóreo era um lugar
que ficava além do que podia alcançar o
vento bóreo, o vento da morte ( em grego, o prefixo “hiper” também significa:
“o que está em lugar superior”). Os gregos diziam que para as regiões hiperbóreas iam alguns deuses, como
Apolo, quando queriam recuperar as forças. A região hiperbórea não é exatamente
o norte da Europa, e sim o limiar desta . Na verdade não é para o norte , e sim
para o hiperbóreo, o lugar para o qual toda bússola aponta. Mas o que mais caracteriza a região hiperbórea da
terra é que nela o sol jamais morre :
ele está sempre no horizonte e corre sobre as montanhas, horizontalmente. Na
região hiperbórea é sempre amanhecer... “Hiperbóreos”, assim deveriam ser os pensadores do futuro, acreditava Nietzsche, para
assim vencerem o vento da morte que sopra contra o pensamento e a diversidade, e não se deixarem capturar pelo niilismo
redutor da vida ao dinheiro e ao
mercado . Como reconhecer um hiperbóreo? Um hiperbóreo é aquele em cujo
horizonte aberto o sol que nunca morre é a Arte.
Manoel de Barros)
Nenhum comentário:
Postar um comentário