Anda muito estranho este nosso país:
li ontem reportagem informando que livros didáticos estão sendo triturados para
virarem papel higiênico! E o mais absurdo: são livros ainda na embalagem, que
nunca chegaram, e nem irão chegar , às mãos dos alunos...Isso me lembrou uma
situação que vivi recentemente: vi em uma lata de lixo perto de casa um livro
que ali estava jogado fora. Era um livro de filosofia: “Tratado sobre a
Tolerância”, de Voltaire. Notei o livro porque, antes, reparei em um senhor
morador de rua que revirava a lata em busca de coisas que ainda podiam valer
algo. Quando ele saiu, fui salvar do lixo a Tolerância. A situação me lembrou
um verso de Manoel de Barros: “O que é verdadeiramente novo nunca vira sucata”.
A Tolerância estava perto de um celular que um dia já foi novo, mas que agora
virou sucata em razão de um modelo novo que o mercado lançou . Porém este mesmo
modelo novo, não demora muito, virará sucata também. Mas valores o mercado não
fabrica, embora ele viva de sucatear os valores com sua lógica de a tudo
reduzir a coisa que se compra e vende...Peguei enfim a Tolerância e a retirei
daquele lugar de coisas reduzidas a nada. A Tolerância estava muito
machucada... Levei-a para casa e a pus perto da janela para pegar sol, secar e
curar. As folhas estavam quase dissolvendo, porém não eram as folhas que eu
queria salvar, na verdade eu queria manter viva outra espécie de realidade.
“Ab-soluto” significa: “o que não é soluto, o que não se dissolve”. Mesmo que
todos os livros sobre a Tolerância fossem jogados fora pela mentalidade utilitarista
ou pelo obscurantismo fundamentalista, seriam dissolvidos papéis e tintas, mas
não a Ideia de Tolerância enquanto ela viver na alma , na palavra e na ação de
quem não a deixar “virar sucata”. Um valor absoluto não é um valor eterno, um
valor absoluto é aquele que a gente não deixa morrer. A Tolerância está viva e
bem, nova como sempre, apesar daqueles que a querem no lixo. A luz do sol faz
milagres...
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