Em toda passagem de ano comemoramos um ano novo: um
ano velho vai, um ano novo vem. Mas o
ano novo não é um começo radical : ele é a continuidade de um mesmo tempo. É
por isso que o ano novo é contado e recebe um número : 2020 é um ano novo de um
mesmo tempo que é numerado, então, com um ano a mais. 2020 é um novo ano de um
mesmo tempo, e não um tempo novo. 2020 é anunciado como ano novo, mas
o tempo que ele traz em parte ainda
está refém, infelizmente, de uma mentalidade retrógrada , nostálgica de um passado de trevas.
Entre os gregos o tempo era vivido de
outra maneira. O tempo não era concebido de forma linear e numérica. Os gregos
viviam o tempo como repetição cíclica. Dois eventos determinam o ciclo do
tempo: o nascimento e a morte, a criação e a destruição. O tempo nasce, cresce
e morre, como tudo o que é vivo. Porém, o tempo renasce, vencendo sua própria
morte. O tempo que renasce é um tempo
novo que nada tem a ver com o que morreu. Esse tempo novo não é o desenvolvimento de um tempo antigo.
Por isso nenhuma data ou número pode
determinar esse tempo renascido outro. É
no tempo novo, e não no tempo morrido, que o tempo mostra sua verdadeira face:
deixar para trás tudo o que está morto.
Quantos tempos novos já existiram?
Impossível numerar... Infinitas vezes já houve um tempo novo. Apesar disso,
sempre haverá tempo novo, a despeito dos homens conservadores do antigo. É para
criar-se novo que o tempo se destrói como antigo. Repetindo-se, o
tempo sempre retorna, diferente. O tempo
não é eterno: eterna é a repetição através da qual o tempo retorna, novo.
“Só podemos destruir
sendo criadores."
(Nietzsche)
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