"A justiça social tem que vir
antes da caridade", ensina o educador Paulo Freire. Em seu método de
alfabetização de adultos, Paulo Freire ensina algo que muito lembra Espinosa: o
educador deve aprender com os educandos conhecendo-os não apenas como
educandos, mas como agentes construtores da realidade em que vivem. Assim, o
autêntico educador deve conhecer seus educandos não como objeto, como faz a
douta academia, e sim como agentes que dão sentido ao mundo em que vivem. Mesmo
que não saiba ler ou escrever, um homem dá sentido ao mundo em que vive por
intermédio de palavras-ferramentas, as quais Paulo Freire chama de
“palavras-geradoras”. As palavras-geradoras não vivem em livros ou dicionários,
elas vivem no enunciado singular do homem no mundo. Assim, quem quer ensinar
tem que aprender a ouvir tais palavras na fala social e coletiva. O professor é
aquele que põe livros em sua fala, ao passo que o educador é aquele em cuja
fala também se encontra a fala daqueles que com ele vieram aprender mais do que
lições de livros.
As palavras-geradoras, autênticas
palavras-potência, desenvolvem e explicam o sentido que nelas está implicado.
Pois elas não são apenas palavras, elas são também ideias, percepções,
cantares, repentes, sons ancestrais... As palavras do dicionário , ao
contrário, são palavras-poder : elas não geram, elas apenas roubam a fala
singular para impor uma fala abstrata, a fala sem gente da gramática . O
sentido das palavras-geradoras não é apenas gramatical, pois elas estão
umbilicalmente ligadas a um modo de vida, e nunca um modo de vida é apenas
gramatical. Assim, a verdadeira pedagogia também é exercício ético da política,
como pedagogia da autonomia. A palavra-geradora me lembra as palavras geradas
do lápis do poeta Manoel de Barros, que dizia: “Na ponta do meu lápis tem
apenas nascimento”. O contrário da palavra-geradora é qualquer uma que, mera
palavra-destruidora, venha da boca de um fascista.
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