sábado, 28 de dezembro de 2019

auroras...


“O que é verdadeiramente novo nunca vira sucata” , ensina  Manoel de Barros . “Sucata”, segundo o poeta, é tudo aquilo que a “velhez venceu”. “Velhez” não é uma vida perto do fim , “velhez” é uma vida que se perdeu de seu “minadouro”, de seu embrião. Se 2019 está virando sucata, é porque ele nunca foi verdadeiramente o tempo novo. 2020 é anunciado como o tempo  novo, porém ele igualmente  virará sucata... Então onde achar   o tempo  “verdadeiramente novo”  que resiste a  virar sucata  ? Onde encontrar  tal “minadouro”  para nos umbilicarmos  a ele e não virarmos  sucata também?
À meia-noite de 31 de dezembro fogos de artifício explodem no céu. Suas cores e luzes atraem olhos esperançosos que se erguem até eles com pedidos e promessas.  Porém os fogos de artifício não duram muito: logo viram fumaça...O dia novo somente nasce mesmo  com as luzes e  cores trazidas pela   perseverante aurora, que sempre vem para nos lembrar que todo dia  é novo,  e não apenas o 1º de janeiro!
Fazendo minhas as palavras do querido poeta,  que não nos falte a força criativa  para  (re)inventar auroras que nos ajudem a vencer  toda  forma de treva, sobretudo a que ameaça   nossos direitos e dignidade, sucateando nosso futuro antes mesmo que este aconteça. Que a visão de uma aurora possa nos inspirar a olhar também para dentro, para criar   também em nós , individual  e coletivamente,   o alvorecer de recomeços.





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