Se a gente olha um quadro de muito
perto, vemos apenas as tintas, as pinceladas, as texturas e tudo aquilo que
nasceu do movimento do pincel. Mas se
nos afastarmos um pouco e olharmos para
a tela, vemos enfim a paisagem que o artista criou. Quando olhamos de perto, a paisagem “desaparece” para nossos olhos, porém não
das tintas. Paisagem e tintas são, no quadro, uma única realidade vista de duas
perspectivas diferentes. Assim são, segundo Espinosa, o corpo e a alma: as
tintas e as paisagens que somos. Se o artista altera o tom de uma tinta, também altera ,
ao mesmo tempo, o sentido da paisagem. As árvores pintadas, os verdes das plantas,
o amarelo do sol, todas as ideias expressas no quadro enfim, estão conectadas
tais como estão conectadas as tintas no espaço do quadro. Alguém poderia
perguntar a Espinosa: “E se depois de estarmos bem perto e vermos as tintas
começarmos a nos afastar lentamente, haverá um momento em que veremos a paisagem
nascendo antes de as tintas morrerem para nossos olhos? Seria possível vermos
as tintas e a paisagem como realidades
diferentes antes de elas se tornarem uma única realidade?” Talvez Espinosa
respondesse assim: “Quando olhamos o
quadro o fazemos com os olhos do nosso corpo, que é ´parte da matéria-tinta que
somos, olhos estes que são os olhos mesmos da alma enquanto expressão da
paisagem que somos. A unidade não nasce de fazermos a paisagem ser superior às
tintas, pois a autêntica unidade está no artista: é ele o produtor da paisagem
enquanto alma das tintas, e das tintas enquanto corpo da paisagem. A unidade
que somos, unidade de tintas e paisagem, corpo e alma, está no artista do qual somos a obra de arte”. Este
artista não é nosso ego, mas a Natureza Infinita, a qual Espinosa chama de
Natura Naturante: a Pintura Absoluta.
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