quinta-feira, 29 de agosto de 2024

o autoconhecimento em Espinosa

 

Segundo Espinosa , todo autoconhecimento visa conhecer a ideia que somos. A ideia  que somos , porém, não pode ser encontrada ou buscada fora de nós mesmos. Pois se a ideia  que  somos estivesse fora de nós mesmos, como saberíamos se , ao encontrá-la fora de nós, tal ideia seria, no entanto, a ideia de nós mesmos? Ideias que estão em livros entram em nós por nossos olhos , quando as lemos;  ou na voz do professor, quando com ele aprendemos ,  escutando-o. Porém, a ideia que somos não pode estar em livros, por mais instrutivos que sejam, nem na voz do professor , por mais didático que o professor seja.

Então, como encontrar e autoconhecer a ideia que somos? A semente do abacate está dentro da fruta-abacate, e faz da fruta-abacate o que ela é e não outra coisa. A semente que está dentro da fruta-abacate é para ela o mesmo que é para nós a ideia que somos. A  fruta-abacate não precisa sair procurando a semente do abacate fora dela para conhecer-se fruta-abacate.  A fruta-abacate e a semente que está nela não são duas coisas, assim como não são duas coisas, mas uma só ,  a alma e o corpo que fazem ser o que somos. Assim, conhecer a ideia  que somos é conhecer algo que sempre esteve onde estamos : quando temos dificuldade de sabermos o que somos, essa dificuldade não se deve à ausência da ideia que somos , mas devido à ausência de nós em relação a nós mesmos.

Uma ideia nunca vive sozinha, diz Espinosa. Assim , a natureza de toda ideia, inclusive da nossa, é , quando se acha, no mesmo instante compreender-se unida a outras  ideias diferentes dela, tal como a semente do abacate que , sem perder sua singularidade, liga-se à árvore da qual proveio e  à árvore que nascerá dela. Tal como a semente, a ideia que somos é uma potencialidade, e não algo pronto.

Além disso, conhecer a si mesmo não é ensimesmar-se no ego, uma vez que, para Espinosa, conhecer a si mesmo é também conhecer o Infinito do qual somos uma parte, um modo.

Parecendo dialogar com o filósofo, o poeta se (auto)explica: "Poeta é ser que vê semente germinar." (Manoel de Barros)





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