Muito se fala,
com razão, das flores. Girassóis, crisântemos, margaridas...Essas e outras
flores já foram homenageadas em poemas , músicas e pinturas. Flores também são empregadas
como símbolos: o lírio é símbolo da pureza e Iluminação; a rosa vermelha, das
revoluções igualitárias.
Mas pouco se
fala das flores que o cacto também sabe produzir. Considero essa
omissão uma injustiça com esse artista da resistência. Na dele, sem
chamar a atenção ou fazer propaganda de si, o cacto é capaz de atos que expressam
rara beleza e simbolizam generosidade.
Assim age esse
perseverante resistente: o cacto é a planta que possui a maior raiz. Em alguns
cactos, a extensão de sua raiz chega a nove ou dez vezes o tamanho
do corpo do cacto que vemos à superfície do chão!
Quem mede o
cacto apenas pela sua parte visível, e pensa que a parte que vê é todo o ser do
cacto, por certo ignora o que o cacto é capaz de fazer. O cacto cria imensas
raízes para sondar o subsolo , não se deixando vencer pela aridez que o cerca.
As raízes do cacto tateiam procurando veios d’água metros abaixo da paisagem
seca. Ele persevera procurando no coração da Mãe Terra a água que o Céu lhe
nega.
Quando encontra
a água, o cacto anuncia sua descoberta brotando flores: em pleno árido , ele
inaugura uma primavera. Então, ele sorve o líquido e se intumesce , de água
fresca ficando grávido. Basta um pequeno furo para a água jorrar matando a sede
dos necessitados.
Foram os cactos
do sertão nordestino que, no passado, não deixaram morrer de sede a rebeldia de
Lampião e seu cangaço ; e a flor que Maria Bonita punha no cabelo também
floresceu de um cacto : o mandacaru, símbolo da força do povo nordestino.
O cacto
mandacaru expressa a resistência da vida, uma resistência que também se faz com
poesia e beleza, apesar da aridez que a cerca. O mandacaru matou a sede de
Lampião e deixou a Maria ainda mais Bonita.
Como
ensina o grande poeta nordestino: “Quando não pode ser cristal, a poesia vale
pelo que tem de cacto.”(João Cabral de Melo Neto)
( e como vimos
recentemente na passagem do inelegível
pelo Nordeste, talvez seja o néctar produzido
pela flor do cacto o alimento antiautoritário que nutre as abelhas nordestinas e as enche de coragem para
aferroar e expulsar os
antidemocráticos...)
Uma parceria de Tom
Zé, Arnaldo Antunes & Grupo Corpo ( o nome da música é
"Xique-xique", um cacto do sertão nordestino) :
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