A ATENÇÃO[1]
Para os estoicos e
Epicuro, a filosofia é inseparável de certos “exercícios”. Ou seja, a filosofia
é uma prática não exclusivamente teórica. Desses exercícios, o primeiro e mais
importante deles é a atenção ( prosochè).Sem
atenção perseverantemente exercitada, não há pensamento e ação fortalecidos.
É um erro dizer: “não
consigo prestar atenção nesse filme, ele é muito lento”, “não consigo prestar
atenção nesse livro, ele não tem figuras”. Pois não é algo externo que deve
despertar nossa atenção, somos nós mesmos que devemos despertar nós mesmos:
toda prática de atenção é, antes de tudo, um prestar atenção a si. Quem depende
de algo externo barulhento e agitado para ter a atenção despertada, é porque
não presta atenção em si.
Meditar, por exemplo, é
prática de prestar atenção na nossa respiração. Até o silêncio requer que
prestemos atenção nele. E não há como alguém discordar ou concordar com algo que o outro diz sem
prestar atenção não só nas palavras, mas
também nos gestos e até mesmo nos
silêncios do outro que nos fala.
Prestar atenção não é
projetar “certezas” ou (pré)julgamentos, e sim abrir-se para aprender, vivendo.
Pois de toda atenção faz parte também o corpo, uma vez que a atenção requer
sensibilidade ativa e atuante.
Assim, prestar atenção
não é querer encontrar nas coisas o que (pré)concebemos delas. Ao contrário,
prestar atenção também é estar atento a essas ideias pré-concebidas que ,
dentro de nós, impedem que em nós entrem coisas novas.
A atenção não se faz no
passado e nem no futuro, pois é sempre no presente, como abertura atenta a ele, que toda atenção acontece e ensina ,
assim auxiliando a nos libertar de
condicionamentos passados e de projeções e expectativas futuras que só trazem medo, insegurança e angústia.
Outro exercício
espiritual fundamental, segundo os estoicos e Epicuro, é a prática da amizade.
Os exercícios espirituais não são feitos apenas com o ego, tampouco de forma
isolada e inacessível. Os exercícios espirituais que singularizam e
potencializam também têm na amizade o seu cultivo. Epicuro chega a dizer que
quem não é apto à amizade não é apto à filosofia, isto é, à liberdade.
A amizade, o agenciamento
de que fala Deleuze e o que Espinosa chama de “bons encontros” são exercícios de
cultivar a si mesmo cultivando igualmente a pluralidade.
Este livro de Hadot é boa uma
introdução ao tema dos “exercícios
filosóficos” visando duas clínicas: a medicina mentis ( medicina da
mente) e a medicina corpori ( medicina do corpo).
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