terça-feira, 18 de abril de 2023

a atenção

 

                                                            A  ATENÇÃO[1]

 

 

Para os estoicos e Epicuro, a filosofia é inseparável de certos “exercícios”. Ou seja, a filosofia é uma prática não exclusivamente teórica. Desses exercícios, o primeiro e mais importante deles  é a atenção ( prosochè).Sem atenção perseverantemente exercitada, não há pensamento e ação fortalecidos.

É um erro dizer: “não consigo prestar atenção nesse filme, ele é muito lento”, “não consigo prestar atenção nesse livro, ele não tem figuras”. Pois não é algo externo que deve despertar nossa atenção, somos nós mesmos que devemos despertar nós mesmos: toda prática de atenção é, antes de tudo, um prestar atenção a si. Quem depende de algo externo barulhento e agitado para ter a atenção despertada, é porque não presta atenção em si.

Meditar, por exemplo, é prática de prestar atenção na nossa respiração. Até o silêncio requer que prestemos atenção nele. E não há como alguém discordar ou concordar com  algo que o outro  diz  sem prestar  atenção não só nas palavras, mas  também nos gestos e até mesmo nos silêncios  do outro que nos fala.

Prestar atenção não é projetar “certezas” ou (pré)julgamentos, e sim abrir-se para aprender, vivendo. Pois de toda atenção faz parte também o corpo, uma vez que a atenção requer sensibilidade ativa e atuante.

Assim, prestar atenção não é querer encontrar nas coisas o que (pré)concebemos delas. Ao contrário, prestar atenção também é estar atento a essas ideias pré-concebidas que , dentro de nós, impedem que em nós entrem coisas novas.

A atenção não se faz no passado e nem no futuro, pois é sempre no presente, como abertura atenta a  ele, que toda atenção acontece e ensina , assim  auxiliando a nos libertar de condicionamentos passados e de projeções e expectativas futuras  que só trazem medo, insegurança e angústia.

Outro exercício espiritual fundamental, segundo os estoicos e Epicuro, é a prática da amizade. Os exercícios espirituais não são feitos apenas com o ego, tampouco de forma isolada e inacessível. Os exercícios espirituais que singularizam e potencializam também têm na amizade o seu cultivo. Epicuro chega a dizer que quem não é apto à amizade não é apto à filosofia, isto é, à liberdade.

A amizade, o agenciamento de que fala Deleuze e o que Espinosa chama de “bons encontros” são exercícios de cultivar a si mesmo cultivando igualmente a pluralidade.

 

Este livro de Hadot é boa uma introdução ao tema  dos “exercícios filosóficos” visando duas clínicas: a medicina mentis ( medicina da mente) e a medicina corpori ( medicina do corpo).




 



[1] Texto-aula  elaborado pelo prof. Elton Luiz.


 

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