A democracia nasceu da distinção
entre dois espaços: o público e o privado. Cada um desses espaços recebia um
nome. O espaço privado era a esfera do “oikos”. Dessa palavra nasce oikonomia,
economia. Esse espaço era, ao mesmo tempo, espaço da propriedade privada e da
família.
Já o espaço público era designado
como “pólis”, cujo centro era um lugar aberto sem cercas ou dono :a praça
pública. Da palavra pólis se origina o termo política. Assim, mais do que um
espaço físico, a pólis era um espaço institucional no qual prevaleciam ideias ,
práticas e valores a favor do interesse comum.
Cada ser humano nasce dentro de uma
família. Porém, para que em cada ser humano também nasça um cidadão, é preciso
fazer a pólis nascer dentro dele o mais cedo possível, ainda criança.
Esse papel de fazer nascer dentro de cada
um o comum enquanto valor não individualista-egoico
, esse papel originário cabe à educação enquanto paideia, isto é, formação de cidadania: em
grego, “cidadão” é “politikos” ( aquele que cria e é criado pela pólis).
“Paideia” significa : “conduzir a
criança”, porém a conduzindo sobre as próprias pernas dela, para que ela
aprenda, desde cedo, a autonomia solidária. Os que são autônomos solidários por
dentro e por fora nunca se submetem a tiranias...
Assim, a educação não é apenas
transmissão de informação, a educação também é uma forma de socialização cuja
base não é o sangue, como na família, e nem a posse privada , como na economia.
A educação é valorização do outro, mesmo que ele não
tenha nosso sangue; a educação também é
dar dignidade ao outro, sobretudo os perseguidos e excluídos . Ontem e hoje, é
a pólis o espaço comum sem o qual não há justiça, igualdade e democracia.
Toda mentalidade obscurantista-totalitária nutre um ódio ressentido-vingativo contra a
educação-paideia. Não por acaso, hoje o alvo dessa mentalidade reacionária é a
escola, seus alunos, funcionários e educadores.
Esses ataques hediondos à escola não
são casos isolados, como setores da polícia e da mídia querem dar a entender.
Esses ataques e ameaças são o resultado da mentalidade antipolítica e antidemocrática
( mentalidade essa ainda hoje tolerada
por setores da mídia privatista que
sempre quer reduzir o interesse público aos seus interesses privados, não importando
o preço a ser pago ou os meios a serem empregados, e por isso fazem vista
grossa ao fascismo, desde que este acene com a privatização-pirataria dos bens públicos).
Ontem e hoje, é a paideia-educação emancipadora que também ensina-educa que há
outras maneiras diferentes de se viver o amor , bem como outras formas possíveis
de família. E que há outros modos de se realizar
a posse ( como a posse comum ou cooperativada), e não apenas a apropriação
liberal-concentradora-privatista.
No seu sentido originário, toda educação é política,
pois é espaço instituinte de democracia,
por dentro e por fora de nós.
“Consegue ir verdadeiramente longe aquele que, mesmo tendo muito avançado, nunca esquece seus primeiros passos.” (Sêneca)
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