A palavra “virtude” vem de “virtu”:
“força”. Não a força meramente física dependente dos músculos, pois a força física
pode ser vil e bruta, porém nunca é vil-bruta uma virtude. Pois a virtude é a força que forma o caráter.
As virtudes pertencem à ética. Infelizmente, muitos confundem ética
com moral, moralizando assim as
virtudes. Porém ética não é o mesmo que moral.
Nietzsche , por exemplo, condena a
moral-conservadora , mas há nele uma ética como arte da existência ; não há em
Espinosa uma única linha moral, porém toda a obra dele é a defesa de uma ética:
a ética da Potência; Bakunin denunciava a hipocrisia da moral liberal-burguesa,
e agia movido por uma ética revolucionária.
Originalmente, “virtu” designava a
força que nasce da fibra tensa do arco que
lança longe as flechas. Para que o tensionar das cordas-fibras não fosse em vão ou desperdício de força, era
preciso ter um alvo antes de tensionar
as fibras do arco.
Virtu é a força potencial capaz
de produzir uma ação e alcançar um alvo.
A virtude é uma força potencial da alma . Coragem, justiça, amizade...são
virtudes : são potências éticas cujo alvo a alcançar é a vida digna.
A virtude é a potência que nasce do
tensionamento da alma , tensionamento esse expresso igualmente nas fibras do corpo.
In-tenso: o que vive no interior de
uma tensão. Ser intenso não é ser agitado, ser intenso não é meramente pôr em
ação os músculos, e sim tensionar as fibras da nossa alma quando ela pensa e
sente, para que a ação do nosso corpo seja sempre flecha que alcança um alvo, sem
precisar se impor à força.
Para os estoicos, não apenas a
coragem, a justiça e a amizade são virtudes, também é uma virtude a humanidade.
Pois humanidade não é a quantidade numérica dos seres humanos que
habitam a terra, humanidade é uma virtude ética.
Assim como existem os homens
destituídos de coragem (os covardes), também existem aqueles destituídos de
humanidade. A virtude da humanidade é fundante: quem não a possui ou cultiva
também não tem coragem, justiça, amizade. Pois a humanidade é a virtude-útero da qual
todas as outras virtudes nascem.
Não é em meras palavras ou teoria que
as virtudes são postas em prática, elas são postas em prática na ação concreta,
e também é por aquilo que alguém faz que podemos perceber a ausência delas: a
flecha dos sem humanidade e sem caráter sempre erra o alvo e retorna apontada para
eles, denunciando-os.
Assim como o berimbau somente produz música com suas cordas
tensionadas , inspirando o capoeirista à luta, o coração também só consegue impulsionar o sangue vital porque
suas fibras são tensas; há fibras igualmente no cérebro, de tal maneira que pensamentos
potentes são sempre como flechas que nunca erram o alvo.
É por isso que se diz que nada se alcança se não houver fibra:
o caráter ético-potente não tem músculos ou ossos, porém ele é todo fibra.
Coloquei a capa do livro de Espinosa
apenas como referência da postagem. A imagem da capa é a do sinete com o qual
Espinosa assinava suas cartas: a letra B é de
Benedictus, e S é de Spinoza, embora Espinosa também assinasse Bento de
Espinosa, a forma afetiva ligada à sua origem portuguesa ( a assinatura que
prefiro). “Caute” significa
“cuidado”: não no sentido de medo que impede a ação, e sim do cuidado/proteção que
precisamos ter ao agirmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário