sexta-feira, 21 de abril de 2023

poesia pode ser que seja...

 

“Solidão” é o aumentativo de “só”, enquanto que “sozinho” é o seu diminutivo. Nenhuma dessas duas palavras pode traduzir a experiência singular daquele que se encontra consigo, pois quem encontra a si mesmo nunca está em solidão ou sozinho.

“Os comparamentos matam a comunhão”, ensina o poeta Manoel de Barros. Somente aqueles que se acham sozinhos procuram explicação reativa  para sua solidão no comparamento com os outros, seja para se aumentar  vã e orgulhosamente ou, ao contrário, diminuir-se sem apreço a si.

Porém  quem  se encontra consigo também sabe encontrar o outro; e o verdadeiro encontro, como ensina Espinosa, nunca é colocar-se acima ou abaixo , mas sim ao lado . Aprendem a andar ao lado aqueles que sabem aonde ir.

Quando paramos de comparar também cessamos de medir ou julgar, e então aprendemos que não apenas a singularidade de cada um é incomparável, como também pode ser incomparável a realidade comum que criamos juntos , em comunhão.

Comunhão é o “dom” de dar realidade ao que nos é comum. Ter algo em comum não é ser homogêneo e sem diferença com o outro, mas potencializar nossas diferenças singulares na criação de um espaço comum também diferente: uma amizade diferente, uma educação diferente, um amor diferente, uma sociedade diferente.

 O comum é o espaço de diferenças incomparáveis que, agenciadas, propiciam (auto)descobertas.

Que pratica comunhão , comunga. O poeta Manoel  comunga com a linguagem, comunga com o corpo, comunga com o cosmos ... para assim comungar consigo mesmo e nos ensinar : “Os Outros: o melhor de mim sou Eles”.






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