quarta-feira, 19 de abril de 2023

19 de abril: dia da luta dos povos indígenas

 

Quando um guerreiro  tupinambá morria muita dor era sentida por todos. Mas era necessário ainda um último ritual a fazer.

Os tupinambás foram povos guerreiros que nunca aceitaram ser escravizados ,  no corpo e tampouco na alma. Eram fiéis à sua Mãe-Terra e aos seus Ancestrais.

De todas as práticas trazidas pelo homem branco-colonizador , havia uma a qual ele  se dedicava com  fanatismo , rogando até mesmo aos céus a ajuda no sucesso desse intento, como se fosse sua verdadeira religião. Trata-se da loucura  por acumular coisas, sobretudo propriedade e ouro a qualquer custo.

Os tupinambás nunca entenderam esse credo materialista e interesseiro: era esse desejo rasteiro que mais os punha em guarda contra o homem branco, nele não confiando.

Para a sociedade tupinambá, o valor de um ser humano  estava em dividir o que é seu. Eles só aceitavam como chefe aquele que maior capacidade tinha em se desapegar. Os tupinambás não faziam guerra para ampliar posses ou fazer escravos. Eles guerreavam quando sentiam sua liberdade em risco, e preferiam a morte a viverem sem dignidade e  honra.

A morte para eles não era o fim. A morte  era a última prova, especialmente para os chefes e guerreiros, isto é, para aqueles que viveram sendo reconhecidos pelos outros como   corajosos, generosos, sábios.

Para o povo tupinambá, a vida tinha dois lados, como as margens de um grande rio. E era o modo como viviam aqui que atestava se eles mereciam   viver lá do outro lado do grande rio na companhia dos Ancestrais.

Então, quando o guerreiro morria, pintavam seu corpo com as tintas extraídas do jenipapo, colocavam junto ao corpo seu arco e flecha, bem como sua flauta feita do fêmur oco do inimigo vencido. Os tupinambás tocavam tais flautas quando viam o colonizador por perto, para que  as pernas dos colonizadores tremessem ao perceberem no que podiam se transformar ao enfrentarem o povo tupinambá...

Ao fim   da tarde , punham o guerreiro numa canoa e a  empurravam em direção ao horizonte. Os tupinambás não acreditavam na separação entre o mar  e o céu. O azul de ambos confirmava suas crenças: lá no horizonte se encontrava uma fronteira . Guardando essa fronteira estava o Guardião.

Se o guerreiro na canoa fora um dissimulado, um enganador que a todos iludiu com esperta lábia, disso saberia o Guardião, que não deixaria o traidor fazer a travessia ao Mar do Céu. Mas se o guerreiro viveu com dignidade , o Guardião o deixava entrar para no céu ser eterna estrela.

No dia seguinte ao ritual, os tupinambás corriam à praia para ver se as ondas cuspiram uma estrela do mar. Se  achassem uma, choravam envergonhados por terem sido enganados por tal farsante. Mas se não achassem essa estrela sem luz, na noite daquele dia faziam uma alegre festa, pois mais um guerreiro valoroso estava brilhando  como estrela viva a protegê-los dos maus.

 





Esta música é cantada nos ritos de iniciação dos jovens Kayapós à vida em comunidade. A letra lembra aos jovens que os Ancestrais também sãos os rios, as árvores, enfim, a terra que dá alimento e proteção ( e que precisa ser cuidada e preservada):




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