Quando um guerreiro tupinambá morria muita dor era sentida por
todos. Mas era necessário ainda um último ritual a fazer.
Os tupinambás foram povos guerreiros
que nunca aceitaram ser escravizados , no corpo e tampouco na alma. Eram fiéis à sua Mãe-Terra
e aos seus Ancestrais.
De todas as práticas trazidas pelo
homem branco-colonizador , havia uma a qual ele se dedicava com fanatismo , rogando até mesmo aos céus a ajuda
no sucesso desse intento, como se fosse sua verdadeira religião. Trata-se da
loucura por acumular coisas, sobretudo propriedade
e ouro a qualquer custo.
Os tupinambás nunca entenderam esse
credo materialista e interesseiro: era esse desejo rasteiro que mais os punha
em guarda contra o homem branco, nele não confiando.
Para a sociedade tupinambá, o valor
de um ser humano estava em dividir o que
é seu. Eles só aceitavam como chefe aquele que maior capacidade tinha em se
desapegar. Os tupinambás não faziam guerra para ampliar posses ou fazer
escravos. Eles guerreavam quando sentiam sua liberdade em risco, e preferiam a
morte a viverem sem dignidade e honra.
A morte para eles não era o fim. A
morte era a última prova, especialmente
para os chefes e guerreiros, isto é, para aqueles que viveram sendo
reconhecidos pelos outros como corajosos, generosos, sábios.
Para o povo tupinambá, a vida tinha
dois lados, como as margens de um grande rio. E era o modo como viviam aqui que
atestava se eles mereciam viver lá do
outro lado do grande rio na companhia dos Ancestrais.
Então, quando o guerreiro morria,
pintavam seu corpo com as tintas extraídas do jenipapo, colocavam junto ao
corpo seu arco e flecha, bem como sua flauta feita do fêmur oco do inimigo
vencido. Os tupinambás tocavam tais flautas quando viam o colonizador por perto,
para que as pernas dos colonizadores
tremessem ao perceberem no que podiam se transformar ao enfrentarem o povo
tupinambá...
Ao fim da tarde , punham o guerreiro numa canoa e a empurravam em direção ao horizonte. Os
tupinambás não acreditavam na separação entre o mar e o céu. O azul de ambos confirmava suas
crenças: lá no horizonte se encontrava uma fronteira . Guardando essa fronteira
estava o Guardião.
Se o guerreiro na canoa fora um
dissimulado, um enganador que a todos iludiu com esperta lábia, disso saberia o
Guardião, que não deixaria o traidor fazer a travessia ao Mar do Céu. Mas se o
guerreiro viveu com dignidade , o Guardião o deixava entrar para no céu ser
eterna estrela.
No dia seguinte ao ritual, os
tupinambás corriam à praia para ver se as ondas cuspiram uma estrela do mar.
Se achassem uma, choravam envergonhados
por terem sido enganados por tal farsante. Mas se não achassem essa estrela sem
luz, na noite daquele dia faziam uma alegre festa, pois mais um guerreiro
valoroso estava brilhando como estrela
viva a protegê-los dos maus.
Esta música é cantada nos ritos de
iniciação dos jovens Kayapós à vida em comunidade. A letra lembra aos jovens
que os Ancestrais também sãos os rios, as árvores, enfim, a terra que dá
alimento e proteção ( e que precisa ser cuidada e preservada):
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