quarta-feira, 22 de setembro de 2021

o retorno de Perséfone

 

Segundo a mitologia, Hades é a divindade  que habita a região escura muito abaixo da superfície da terra. Nesse lugar nenhuma luz entra.

Certa vez, porém, Hades ouviu risos vindo da superfície. Ele subiu e viu Perséfone... Ela estava com sua mãe , a deusa Ceres. De “ceres” vem “cereal”, pois Ceres é a divindade do plantio e colheita dos cereais.

 Ceres , por sua vez, é filha de  Cibele, a divindade  da fertilidade. Cibele é o Feminino Ancestral ( os povos originários da América a chamam de Pachamama).

 E foi em sua neta Perséfone que a fertilidade de Cibele se tornou uma força criativa semelhante àquela que vemos no artista, pois Perséfone é a divindade  cuja arte é fazer nascer flores: múltiplas e heterogêneas, flores de todas as cores.

Perséfone mata outra fome diferente daquela que Ceres mata: Perséfone mata a fome de arte, de poesia e de criatividade.

Hades se apaixonou pelas flores e quis levá-las para enfeitar sua noite eterna. Foi uma imensa surpresa,  ninguém imaginava que pudesse nascer no taciturno  Hades um desejo por cores.

Num ato condenável, Hades raptou então Perséfone para fazê-la morar lá embaixo . Porém, naquele mundo carente de luz , de Perséfone nasciam rosas só com espinhos , sem as pétalas, flores da dor que elas eram.

Enquanto isso, sentindo a falta de Perséfone, Ceres ficou deserta : o grão não mais germinava nela. Havia agora fome de pão e de beleza, de pão e de poesia, e ninguém sabia qual das duas fomes doía mais: a primeira esvaziava o estômago, a segunda ao coração secava .

A pedido de Ceres, Zeus interveio e foi feito então um acordo. Durante parte do ano Perséfone viveria lá embaixo com Hades : sua ausência entre nós recebeu o nome de inverno.

Até que vem o ansiado tempo em que Perséfone sobe de volta  e enche de vida a terra :  tudo recomeça , renovado.

Hoje, a treva não está somente lá embaixo,  treva pior  nos ameaça aqui em cima.  Apesar disso, nada detém  Perséfone: hoje, 22 de setembro, começa a  primavera, tempo em que Perséfone chega para florir de vida  a terra.

 

  

“O céu da teoria é cinza;

mas sempre verdejante é a árvore da vida.” (Goethe)

 

“Eram os passarinhos que colocavam

primaveras nas palavras.” (Manoel de Barros)

 

(imagem: “Primavera”/ Monet)




"Leito do Sena na primavera"/ Van Gogh :



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