Sempre achei
que as plantas plantadas num vaso se assemelham a passarinhos presos numa
gaiola. Na mitologia, Urano, o Céu, foi gerado por Gaia, a Mãe-Terra: antes de
brilharem no céu, as estrelas foram
sementes gestadas no ventre da Terra.
Nas plantas, as raízes se assemelham ao que nos passarinhos são asas,
pois são com as raízes que as plantas voam no
seio da Terra . Do mesmo modo que o céu horizonta os passarinhos , a Terra horizonta
as raízes que se alimentam e se expandem no seio dela. Como ensina o poeta Manoel de Barros, os
horizontes são telas para a gente pintar liberdade nelas.
Assim como numa
gaiola que tolhe o voar do passarinho, num vaso as raízes
ficam atrofiadas, não se ampliam tudo o
que podem.
E assim
também é a mente humana: quando plantada no vaso estreito de cômodas certezas,
fica atrofiada.
Hoje, bem
cedinho, tomei a decisão: libertei uma planta que eu cuidava, a retirei da gaiola do estreito vaso e a soltei , plantando,
num
imenso quintal.
Tomei essa libertária
decisão inspirando-me em Espinosa, que nos tira de todo vaso estreito e nos enraíza ,
como rizoma liberto, na infinita e horizontada Terra.
E hoje pela
manhã também li uma notícia que faria
sorrir Espinosa: os cientistas descobriram que , quanto mais potente e saudável
é uma floresta, entre as árvores não há
competição por luz ou disputa com uma
querendo ser maior do que a outra, pois nas
florestas saudáveis e potentes as raízes das árvores se encontram debaixo da
terra , formam rizomas coletivos e se fortalecem mutuamente, como quem luta junto dando as mãos.
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