domingo, 12 de setembro de 2021

rizomas

 

Sempre achei que as plantas plantadas num vaso se assemelham a passarinhos presos numa gaiola. Na mitologia, Urano, o Céu, foi gerado por Gaia, a Mãe-Terra: antes de brilharem no céu, as estrelas  foram sementes gestadas no ventre da Terra.

 Nas plantas, as raízes  se assemelham ao que nos passarinhos são asas, pois são com as raízes  que  as plantas   voam no seio da Terra . Do mesmo modo que o céu horizonta os passarinhos , a Terra horizonta as raízes que se alimentam e se expandem  no seio dela.  Como ensina o poeta Manoel de Barros, os horizontes são telas para a gente pintar liberdade nelas.

Assim como numa  gaiola que  tolhe o voar do passarinho, num vaso as raízes ficam atrofiadas, não se ampliam  tudo o que podem.

E assim também é a mente humana: quando plantada no vaso estreito de cômodas certezas, fica atrofiada.

Hoje, bem cedinho,  tomei a decisão: libertei  uma planta que eu cuidava, a retirei  da gaiola do estreito vaso e a soltei , plantando,   num imenso  quintal.

Tomei essa libertária decisão inspirando-me em Espinosa, que  nos tira de todo vaso estreito e nos enraíza , como rizoma liberto,    na infinita e horizontada  Terra.

E hoje pela manhã também  li uma notícia que faria sorrir Espinosa: os cientistas descobriram que , quanto mais potente e saudável é uma floresta,  entre as árvores não há competição por luz  ou disputa com uma querendo ser maior do que a outra,  pois nas florestas saudáveis e potentes as   raízes das árvores se encontram debaixo da terra , formam rizomas coletivos e se fortalecem  mutuamente, como  quem  luta junto  dando as mãos.




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