Em sua Ética, Espinosa coloca o “cuidado”
como prática fundamental, sem a qual não há filosofia, poesia, cultura,
liberdade, democracia, enfim, vida. A palavra cuidado vem do latim “caute”.
Cuidado não é a mesma coisa que medo.
Pois medo é um receio de agir, ao passo que o cuidado é um agir mais do que
necessário diante de tudo aquilo que é frágil e depende de nós, de nossa ação.
Frágil não é a mesma coisa que fraco.
Frágil é tudo aquilo que traz em sua imanência uma potencialidade ainda a aflorar.
Por exemplo, a criança é frágil, ela não é fraca. A criança é frágil porque há
nela uma potencialidade que precisa de cuidados para crescer e frutificar.
Educação, cultura, amor, o lúdico...Tudo isso são cuidados dos quais a criança
precisa para que dela cresça um adulto
que também exercerá a prática do
cuidado.
A semente igualmente é frágil: ainda
por nascer, há em sua imanência uma árvore da qual surgirão frutos com novas sementes dentro . Mas essa
potência somente se tornará real se for cuidada. Calor, água, terra fértil...São
os meios com os quais o jardineiro cuida
da semente.
Fraco, ao contrário, é tudo aquilo
que põe em risco a prática do cuidado e os seres que o cuidado potencializa.
Fraco é o que somente sabe destruir, por isso seu culto às armas e às motosserras,
físicas ou simbólicas. Os fracos querem sempre destruir essa virtualidade em
nome de um presente reativo e cultuador de um
passado obscuro. Fraqueza é ressentimento e espírito de vingança; enfim, fraco é o autoritário que quer se impor
gritando, ameaçando, apontando armas.
Assim, o cuidado é prática ética, pedagógica
e política para proteger tudo o que é
frágil, em nós, nos outros, na sociedade, na natureza. Mas a prática do cuidado
enquanto tal não pode ser frágil. A semente depende do amanhã para virar árvore
e floresta, a criança depende do amanhã para se tornar adulto, porém a prática
do cuidado não pode esperar pelo amanhã, pois ela é sempre necessária no aqui e
agora, já.
O cuidado é prática que se faz no
presente garantindo que haja futuro , a despeito das forças do passado que
sempre querem a regressão, o atraso, o
retrocesso.
Por isso, a prática do cuidado tem
que ser a mais potente possível, a mais firme, sem medo, com coragem, sem
receio, perseverante.
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