quarta-feira, 7 de julho de 2021

a sabedoria e sua fonte-fluxo

 

O maior sábio da Grécia não foi Sócrates, Platão ou Aristóteles. O maior sábio foi Tirésias. Ele não se tornou sábio competindo para ser o “Dono da Verdade”  ou querendo ter opinião acerca de  tudo. Tirésias se tornou sábio   a partir de algo que ele viu e viveu .

Assim  aconteceu : atrás da casa de Tirésias passava um rio. Do rio vinha a água que ele bebia e o alimento que pescava. Até que um dia Tirésias se fez uma pergunta: “De onde vem esse rio? Onde fica seu minadouro?”.

Tirésias resolveu então  ir contra a corrente no esforço para achar a nascente. Somente  indo contra a corrente  se pode achar  nascentes, de rio ou de ideias. A fonte nunca vive no “acostumado”, no “mesmal”.

Não demorou para alcançar  partes onde o rio, embora o mesmo, já não lhe era conhecido : viu em suas margens flores que nunca tinha visto, ouviu passarinhos dos quais não sabia o nome. 

Enquanto prosseguia, não via trilhas ou pegadas. Sentindo-se correndo riscos, Tirésias   hesitou, quase abortando sua “linha de fuga”. Até que ele olhou à frente e viu alguém a se banhar na fonte da qual o rio nascia. Era Atena, a deusa da sabedoria. Ela estava nua...

A  sabedoria precisa às vezes se banhar  em fluxos  para reinventar-se nova. Nas academias  , a sabedoria se veste de  teorias. Ela nunca se mostra nua   nesses lugares. Quem a conhece apenas  vestida pode  até se tornar  um teórico , mas nunca será  um pensador ou poeta.

Tirésias então percebeu que ao se despir das teorias é como poesia que a sabedoria se mostra a quem  teve que se perder  para achá-la.

A   autêntica sabedoria  é fonte que renova a si mesma  para que em nós  não seque a vida.

                                                                                                                                                

“A palavra abriu o roupão para mim:

ela quer que eu a seja.” (Manoel de Barros )



-em homenagem ao poeta Cazuza ( falecido num 7 de julho, há 31 anos):



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