sexta-feira, 2 de julho de 2021

#3J : indignação e #forabolsonaro

 

Segundo Deleuze, há livros que  “sugam” nosso olhar para dentro deles, tornando nossos olhos meros apêndices da visão  de mundo deles. São livros que deixam nosso olhar muito teórico , porém sem sensibilidade política e crítica para “ler” a  realidade concreta que nos cerca.

Os livros mais necessários, ao contrário,  são aqueles que nos conectam  com a realidade   : eles nos situam ativamente no aqui e agora , porém sem nos fazer perder  de vista os horizontes, as aberturas. Livros assim nos ajudam a agir sobre o mundo, mais do que apenas teorizá-lo.

Assim são os livros de Espinosa. É desse filósofo  que vem a ideia de “indignação” que aqui interpreto. A indignação é um afeto que une os justos para que, juntos, multipliquem a potência de cada um na resistência e luta contra  as tiranias.

O ódio e a violência vivem de derramar sangue. Na mitologia , as Fúrias ,  Deusas  do Ódio e da  Vingança,  nasceram do sangue derramado ;   por isso, elas  têm sede para derramar mais sangue em troca, servindo assim à destruição e à morte.

Já a indignação intensifica o circular do  sangue nas nossas veias,  sangue que oxigena de coragem a vida. É por isso que a indignação nos leva às ruas, pois as ruas são as veias da vida coletiva : o oxigênio que transportam é  a liberdade, sem o qual a sociedade sufoca. 

O motor da indignação é o amor à dignidade, o apreço pela vida digna. Não apenas  a vida digna individual , sobretudo a vida digna coletiva. “Dignidade” vem de “dignus”:“nobre”. O contrário de nobre é “vil” , “vileza”.

A autêntica nobreza  não é ter posses ou propriedades , mas  agir para  tornar a vida nobre. Essa nobreza da dignidade foi poetizada  por um  homem do povo chamado   Angenor. Assim conta a história:  quando trabalhava  como operário numa obra,  Angenor colocava sobre a cabeça um chapéu muito simples e surrado, para assim proteger-se. Porém,  o modo digno como ele punha o chapéu e seu estilo nobre ,  levavam seus companheiros de obra  a dizerem : “Acorda, Angenor! Isso é um chapéu de operário, não é uma cartola!” E foi assim  que, do Angenor sonhador, nasceu o poeta Cartola :  a nobreza  vinha de seu ser, corpo e alma , não de posses.

Indignação é afeto que une os justos na defesa da vida digna e nobre. Enfim, nobre é tudo aquilo que potencializa a vida , como a educação, a arte e o conhecimento; e nobre também é sua defesa, sobretudo quando nos ameaça o fascismo e sua vileza.

Nietzsche dizia: “Só podemos destruir sendo criadores”. A indignação é arma coletiva para destruir tiranias, pois a move o desejo de construir democracia, isto é, vida plural e digna.




-  Na foto, as forças ditatoriais do AI5 ameaçando o poeta Cartola:





 

- Belo trabalho ( entre muitos) do amigo Paulo Malaguti Pauleira:





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