Quando Sócrates foi preso, os
policiais rumaram à casa do filósofo para apreender seus supostos “livros subversivos” , que os policiais supunham muitos. Na casa , porém , não viram nenhum livro, encontraram
apenas a esposa do filósofo tentando esconder o choro diante dos filhos que, parando
de brincar, indagaram aos policiais:
“Cadê meu pai!?”
Plotino quase não tinha livros em
casa, embora fosse considerado o homem mais sábio de sua época. Mas seu lar era cheio de gente, inclusive crianças
órfãs, as quais Plotino cuidava e alimentava , antes de ir contemplar
com amor o céu.
Assim que Espinosa morreu, seus perseguidores
invadiram o quarto do filósofo,
imaginando que ali havia mil livros “perigosos”
que Espinosa escreveu em parceria com o Diabo. Armados com tochas ,
queriam tacar fogo nos livros do filósofo. Mas no quarto modesto, que Espinosa alugava na casa
de uma família simples, os fanáticos do poder teológico-político encontraram apenas
pouco mais de 100 livros, todos com sinais de que foram muito lidos, embora bem
cuidados. Havia não só livros de filosofia e ciência, havia também livros de
poesia. No centro da prateleira, aberto, encontrava-se o livro “Sobre a Natureza”, escrito pelo poeta-filósofo Lucrécio, que dizia que o pior
escravo é o servo voluntário da
superstição negadora do conhecimento.
Todo dia, no meio da tarde, Kant
deixava sua biblioteca para ir deambular pelas ruas e praças de sua cidade. Como
um dedicado aluno, Kant caminhava observando atentamente tudo, para aprender
diretamente lendo o livro do mundo.
Certa vez, Wittgenstein rompeu com os
livros, não queria mais saber de filosofia ; mergulhou numa angústia profunda,
parou de ensinar. Quem o resgatou para o pensar foram as flores de um jardim
que ele começou a cuidar. O filósofo redescobriu-se filósofo sendo jardineiro. Renovado,
voltou a ensinar: tornou-se professor
de um jardim de infância para crianças pobres.
( imagem: “Sherazade”,
obra-instalação de Sami Hilal . Como a
personagem feminina de “As mil e uma noites”, que vence com sua arte o misógino e autoritário “Sultão”,
os livros se agenciam formando um fluxo que acha caminhos para seguir em frente.
Acrescentei os versos de Manoel)
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