Gosto muito da ideia de “rizoma”.
Rizomas são plantas cujas raízes crescem horizontalmente. As folhas e flores de
uma planta rizomática são pequenas e discretas. Quem olha para a parte visível
de um rizoma e o compara com uma imponente palmeira real , por exemplo, não
consegue ver o verdadeiro tamanho e força dos rizomas. Pois as raízes dos
rizomas crescem logo abaixo do chão, na nervura da terra. Suas raízes abrem-se
em todas as direções , como afluentes de um rio que nunca para. Não raro, a
extensão da raiz de um rizoma suplanta o tamanho visível de uma palmeira real,
revelando que o rizoma expressa outro tipo de nobreza: enquanto a realeza da palmeira
se mede em metros acima do chão , a nobreza dos rizomas se mede pelo tanto que
eles se horizontam cobrindo a terra. As palmeiras reais são símbolos do poder
de castelos e palácios; mas os rizomas são plantas que constroem pluralmente um
espaço aberto , democrático. Como as árvores, os rizomas também dão frutos , e
alguns passarinhos que nidificam no chão preferem a horizontalidade de certos
rizomas para construírem seus ninhos.
Às vezes , a gente olha para um campo
e vê inúmeras flores , parecendo que cada uma existe isolada como um ego
ensimesmado. Mas se a gente pudesse olhar um pouquinho abaixo da terra,
veríamos que cada flor brota de um mesmo rizoma comum que as mantém conectadas
.E o mais surpreendente é a arte de que alguns rizomas são capazes: eles
escalam o tronco de certas árvores, como fazem os cipós. Depois, os rizomas
exploram determinado galho como se examinassem o peso que ele é capaz de
suportar . Os rizomas então se enrolam no galho e descem feito cordas : para
que a gente possa fabricar com elas um lúdico balanço para as crianças
brincarem.
“A poesia que brota de mim tem raízes
crianceiras. ”(Manoel de Barros)
( imagem: Deleuze & Guattari
fazem do rizoma a inspiração para a criação de uma nova filosofia)
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