terça-feira, 16 de junho de 2020

espinosa : diferença entre indignação e ódio


Segundo Espinosa, não se deve confundir “ódio” com “indignação”. A indignação é um afeto ativo nascido da compreensão de que  uma injustiça sofrida por outro cidadão de nós diferente   é uma violência  que também nos atinge, ao passo que o ódio é um sentimento reativo transformado em vontade de destruir o outro   , física ou simbolicamente . Indignação é desejo de construção da justiça, ódio é vontade de  vingança. A indignação une os homens na luta pela defesa do que nos torna dignos, já o ódio arrebanha os que fazem da ignorância bandeira e partido. O ódio geralmente se arma com preconceitos, intolerâncias , fake news...ou ainda  com o estúpido revólver mesmo, ao passo que a indignação se expressa não apenas em passeatas ou manifestos, mas também   na arte e pensamento críticos.  Enfim, o que caracteriza um cidadão, diz Espinosa, não é exatamente votar  ou empreender negócios, mas ser capaz de se indignar com a injustiça sofrida por um outro. E a indignação deve ser  ainda maior , nos unir ainda mais,  quando o ódio autoritário quer destruir  a própria democracia. Pois não foi a democracia que criou a indignação , foi a indignação que criou a democracia , pois antes mesmo de existirem as leis democráticas e seus Tribunais com magistrados togados, foi a indignação corajosa de homens libertários que primeiro derrotou  a tirania medieval dos que impunham  servidão e    vassalagem. Indignação não é um ódio ao que é indigno, mas um amor ao que é digno, transformando esse afeto em  ação que nos diferencie e agencie coletivamente. A vacina não age diretamente na destruição do vírus, a vacina  fortalece nossa saúde para que esta, afirmando-se, destrua o vírus.
Certa vez, um fanático do ódio quis matar Espinosa. Rápido, Espinosa desviou do golpe. Ao invés de apenas alimentar ódio  a tal homem, Espinosa se indignou com a simbologia de tal ato, cujo alvo não era apenas ele ,  mas  o próprio pensar livre e democrático de não importa qual tempo. Compreender Espinosa não é  apenas decifrar  intelectualmente a lógica do seu  texto, mas fazer ressoar em nós a sua voz calma e doce, porém firme e indignada, para que ela se some à nossa e  potencialize o nosso coro plural de indignados que não  pode nunca se  deixar calar.






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