sexta-feira, 17 de abril de 2020

espinosa, roza & ulpiano


Espinosa dizia que quando a morte leva um recém-nascido, a morte leva a maior parte do que o recém-nascido foi. Mas a morte não tem poder para  levar tudo, a morte não é absoluta: "ab-soluto" , "o que não é soluto", "o que não se dissolve." A morte é soluta, e não absoluta. Absoluta é sempre a vida, apesar das forças da morte , mortes físicas ou simbólicas, que tentam dissolvê-la. Assim, mesmo no caso de um recém-nascido, a morte não leva tudo: fica a lembrança . O filho nasce primeiro no desejo dos pais de concebê-lo. Mesmo que o filho não nasça, o desejo  comum que   uniu dois desejos, tornando-os um, esse desejo  foi vivo e não morre, pois é dele que pode nascer um outro futuro filho. Assim, diz Espinosa, quando a morte vier levar aquele cujas palavras e ações  afirmaram  a vida absoluta com a máxima potência que pôde,  deste a morte  levará apenas a menor parte, pois a maior parte daquele que assim viveu continuará a viver na vida daqueles que ele afetou, ensinou, amou  e fortaleceu.

Às memórias de Luiz Alfredo Garcia-Roza e Cláudio Ulpiano.




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