terça-feira, 7 de abril de 2020

inventar aumenta o mundo...


O poeta Manoel de Barros se formou em Direito. Seu primeiro cliente, no entanto, também foi o último. O tal cliente era um mau comerciante que burlava a balança, colocando o dedo em um dos pratos dela para favorecer a si próprio em prejuízo do cliente. Uma senhora viu o gesto ardiloso e resolveu denunciar o dissimulado , movendo um processo contra o mau comerciante. Fingindo ser inocente, o mau comerciante procurou então a associação de comerciantes para ser defendido . Manoel era o advogado recém contratado dessa associação. Quando foram apresentados, Manoel pediu para conversar a sós com o acusado, e perguntou: “É verdade o que afirma sua denunciante? Você é desonesto?” O mau comerciante respondeu: “É verdade, eu ponho o dedo na balança. Mas vamos negar isso... Fique tranquilo, eu pago bem.” Manoel apenas disse um “com licença” e se afastou, indo até ao presidente da associação para dizer: “estou largando esse caso, a invenção de que gosto é outra.”
Há invenções que são negações da realidade, e indicam má-fé, ignorância, desonestidade, crime ou psicopatia. Em alguns casos, as invenções negacionistas são a combinação disso tudo, como são as “fake news” que levaram o bozo e sua facção ao poder e colocam a sociedade sob grave risco . A invenção poética não é negação da realidade. Ela é ampliação da realidade pela criação de novos sentidos que afirmam e aumentam a força criativa da vida: “Inventar aumenta o mundo” (Manoel de Barros)



Nenhum comentário: