A frase “Todo poder emana do povo”,
usada por bozo para armar o golpe, ela é parte apenas da questão democrática,
mas ela não expressa o todo. Na referida
frase, a ideia principal é a do “poder”. Porém há uma diferença entre “poder” ( “potestas”, em latim) e “potência” ( “potentia”),
e quem melhor explica isso é Espinosa. “Potestas”
é uma transferência feita pelo povo de seu “poder de agir”. Quem recebe esse
poder ( o parlamentar, o presidente, etc.) passa a ter o direito de “agir” pelo
povo, desde que esse poder recebido não ponha em risco a sociedade como um todo
em sua potência de existir e pensar. Segundo Espinosa, existir e pensar são
direitos também, direitos que antecedem a todo poder constituído, inclusive ao
direito do presidente e do exército. O direito que antecede a todo direito
constituído é chamado por Espinosa de “potência”
(“potentia”) . E esses direitos são indelegáveis: somente o poder de agir é
delegável, a potência de existir e de pensar são imanentes a cada indivíduo singular. Assim , somente o poder ( potestas)
de agir é delegável, a potência de
pensar é indelegável e é ela que nos protege das usurpações do tirano e nos dá
o direito de tirar a potestas que ele recebeu. Quando alguém escreve em seu
perfil : “Ele não é meu presidente”, está pondo em prática esse direito que
antecede a potestas. Espinosa também distingue “povo” , “rebanho” e “multitudo”. “Povo” é como o poder designa a
parte da multitudo que lhe conferiu, pelo voto, o poder de agir. “Rebanho” é
quando parte do povo renuncia a pensar e
passa a obedecer cegamente àquele que se
elegeu com seu voto, unindo-se a ele na repressão a todos que resistem a tal
poder . E multitudo é a heterogeneidade existencial
e pensante de todos os indivíduos singulares. A multitudo é mais do que o povo,
e nunca será rebanho. A multitudo é a legítima detentora do poder e ninguém
fala por ela: somente ela fala por ela mesma. “Voto” e “pesquisa de opinião” são partes da voz dela, mas não são e nunca serão a voz toda. A multitudo não é a
democracia instituída, ela é instituinte de democracia.
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