terça-feira, 1 de outubro de 2019

psiquê & pneuma


Em grego, há vários nomes para a “alma”. O mais original  deles é “Psiquê”. Não por acaso, na mitologia  Psiquê era o nome próprio de uma jovem. Diferentemente do nome  “Razão”, princípio masculino , Psiquê não é o nome  de apenas uma parte da alma, mas da alma inteira. Psiquê não era somente   raciocínio e teoria. Ela era isso também e mais sensibilidade, intensidade, beleza , generosidade , coragem, coração e poesia. Enquanto a Razão tem a pretensão de  existir e pensar sozinha ( exemplos disso são o  racionalista Descartes,  com o seu ensimesmado “Penso, logo existo”, e o rígido  Kant  com sua “Razão Pura”) , Psiquê só se viu inteira quando encontrou sua companhia. A companhia de Psiquê é Eros, o Amor. Esta palavra é a reunião da partícula “a” com função privativa ( como em “a-fasia”, “não fala”) mais a abreviação da palavra  morte ( “mor”). Assim, no seu sentido original, “amor” é “não morte” ( nos vários sentidos que a morte pode ter). É na companhia de Eros , agenciada com ele, que Psiquê resiste à morte; e  é na companhia de Psiquê que Eros aprende que ele mesmo não sabe tudo o que pode.
A  “alma” possui ainda  outro nome: “pneuma”. Esta palavra costuma ser traduzida por “sopro”. Em latim, “spiritus”. Porém  pneuma, ou spiritus, não é  o sopro  que a gente expira  ( quando colocamos o ar para fora). Pois pneuma designa o ar  que a gente inspira, puxando o ar para dentro de nós . Quando a gente expira, é a gente que sopra; mas quando a gente inspira é a própria  vida  que sopra  dentro de nós. Quando o bebê sai do ventre e nasce,   o ato que inaugura seu respirar é o inspirar  que o desperta para a vida. Esse inspirar inaugural não é feito apenas pelo seu pequenino pulmão, mas por todo seu corpo. Este é o sentido original de “inspiração”: “encher-se de vida para intensificar a vida que vive em nós”, para assim não sufocarmos. Na verdade, a tradução mais correta de “pneuma” não é “sopro”, e sim “brisa úmida”, como aquela que , vinda do oceano, ao deserto vivifica.

"Por toda parte , estremecendo, sentimos o mesmo  Sopro gigantesco que, escravizado, luta por libertar-se" ( Nikos Kazantzákis) 




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