Desde
adolescente Espinosa ajudava o pai, que era comerciante. Certa vez, o pai de
Espinosa lhe pediu que fosse cobrar uma dívida bem atrasada de uma senhora que
tinha posses, porém sempre atrasava nos pagamentos, e isto quando pagava...O
ainda menino Espinosa bateu à porta da tal senhora, ela apenas entreabriu, viu
que era o menino-filósofo e disse, com
um tom de voz meio teatral: “um momento, estou terminando de ler a Bíblia”.
Após algum tempo ela abriu a porta, já
passando apressadamente um envelope a Espinosa, dizendo: “ eis o pagamento.
Desculpe a demora, primeiro sempre a religião. Nunca se esqueça, meu filho:
Deus acima de todos”. Mal sabia aquela senhora que o pai de Espinosa mandou o
garoto , e não outro filho mais velho, porque o menino filósofo tinha a arte de
ler o que alguns tentam esconder dissimulando na alma, mas que se torna visível nos gestos do corpo, para quem os sabe ler. O menino
recebeu educadamente o envelope, porém o abriu antes de ir embora e
contou as notas, apenas para confirmar o que ele já sabia , dizendo então com
firmeza : “minha senhora, o valor está incompleto, está faltando .” Sem dizer
nada, mas fechando a cara, a senhora tirou um punhado de notas que escondia no
vestido e , com ódio, o passou a Espinosa, logo em seguida batendo a porta.
Antes de ir, o menino filósofo ainda ouviu a mulher gritar: “esse menino é o
demônio!...”
"Um livro forjado no inferno", era assim que os detratores e perseguidores de Espinosa se referiam ao livro "Tratado teológico-político", no qual Espinosa argumentava acerca dos imensos perigos para a democracia quando religião e política se unem para se apoderarem do Estado, para assim usarem a força policial para perseguir quem pensa diferente:
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