Vestido com uma longa bata branca, barba
e cabelos grisalhos , um
sorriso simpático no rosto, a todos ele dizia, ao mesmo tempo oferecendo flores:
“GENTILEZA GERA GENTILEZA”. As pessoas o
chamavam de “Gentileza”, o Profeta Gentileza. Ele não anunciava o fim do mundo,
ao modo dos profetas a serviço do poder
teológico-político , mas como o mundo poderia recomeçar: por intermédio da gentileza em seus vários sentidos.
"GENTILEZA GERA GENTILEZA”. Este era seu
mantra, seu ritornelo. Alguns riam dele e o supunham louco; outros o tinham por
sábio. Mas a todos ele ofertava, sorrindo, as flores: sem nada pedir em
troca...Ele nos ofertava flores e nos pedia apenas gentileza. Não gentileza com
ele, pois ele já a possuía e doava. Ele pedia gentileza para com os outros e
para com a gente mesmo, gentileza com o planeta, gentileza com o conhecimento, gentileza
com o cosmos, gentileza com Deus ,incluindo a gentileza de parar de fazer dele
cabo eleitoral...
“Gentileza” provém de “gentil”. “Gentil”, “gente” e “generoso” procedem de
uma mesma raiz: "gens", que significa exatamente gerar - como a
gentileza que gera gente generosa. Espinosa, por sua vez, dizia que a filosofia
é uma espécie de medicina que visa produzir uma “regeneratio” , uma
regeneração. “Re-generar” também tem por
raiz “gens”, e significa: gerar de novo vida no que parecia morto.
Ser gentil não significa ser
"bonzinho". O vaidoso é "bom" com quem o lisonjeia, o
avarento é "bom" com quem lhe deixa migalhas , o tirano é
"bom" com os obedientes. Tais "bondades" e outras afins nada
têm a ver com gentileza. O oposto da
gentileza é a vileza. Há "bondades"
vis, porém a gentileza é sempre nobre, mesmo quando critica ou diverge,
como Deleuze divergindo de Foucault.
O que impede a gentileza? O Profeta
respondia: “O que impede a gentileza é o capetalismo”. O “capetalismo” não é
apenas o capitalismo enquanto sistema
econômico. O “capetalismo”, dizia ele, destrói o planeta, ao mesmo tempo
destruindo o que há de nobre no homem,
deixando só a vileza. Pois o “capetalismo” também é o ódio, a ignorância cheia
de si, o preconceito , o culto ao Mercado...E ele dizia tudo isso sem ódio ,ele
o dizia nos entregando flores , sem perder a gentileza. Os milicos da ditadura
o tinham por subversivo, pois em um mundo
onde o ódio e ignorância dominam, outrora
como hoje, a gentileza também pode ser
uma forma de resistência contra a vileza.
(imagem: capa do belo livro do amigo
Leonardo Guelman)
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