O nascer é um acontecimento que
apenas o verbo pode dizer. Os anos que vivemos parecem que vão nos afastando
daquela origem, e chamamos a isso, equivocadamente, de "crescimento".
Pois quando vamos nos tornando adultos, aumentamos em matéria e substância por
fora, não necessariamente em inauguramentos criativos por dentro . Talvez seja
por isso que o poeta Manoel de Barros tenha dito: “Quando crescer vou virar
criança."
Contudo, a força que nos faz nascer e
nos conserva no viver não são duas, elas são a mesma, única – como viu
Espinosa. A força que conserva é a mesma que cria: somente o que é criado,
nascido, pode ser conservado. Seria absurdo querer conservar apenas a mesa que
o carpinteiro produziu, descuidando do próprio carpinteiro e sua potência
criativa de produzir mais mesas, inclusive de produzir mesas diferentes
daquelas que até hoje ele criou. É no produtor, e não no produto, que criar e
conservar andam juntos: o que se deve conservar é o ato de produzir o novo, e
não apenas o produto pronto desse ato. É isto, por exemplo, que faz a própolis:
ela conserva a vida da colmeia, para que esta se proteja das doenças que querem
, de dentro, fragilizá-la ; e, ao mesmo tempo, a própolis é força que ajuda a
colmeia a se manter viva, reinventando-se, perseverando na vida.
Criar e conservar se tornam ideias
antagônicas quando se quer colocar o conservar antes do criar, vendo no criar
algo que ameaça uma “Ordem” rígida , paranoica. Um conservar assim é o que faz
o formol: serve para conservar apenas o que já está morto e não se reinventa mais.
Arte, filosofia, educação são própolis; protofascismo fundamentalista é formol.
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