domingo, 13 de outubro de 2019

a própolis e o formol


O nascer é um acontecimento que apenas o verbo pode dizer. Os anos que vivemos parecem que vão nos afastando daquela origem, e chamamos a isso, equivocadamente, de "crescimento". Pois quando vamos nos tornando adultos, aumentamos em matéria e substância por fora, não necessariamente em inauguramentos criativos por dentro . Talvez seja por isso que o poeta Manoel de Barros tenha dito: “Quando crescer vou virar criança."
Contudo, a força que nos faz nascer e nos conserva no viver não são duas, elas são a mesma, única – como viu Espinosa. A força que conserva é a mesma que cria: somente o que é criado, nascido, pode ser conservado. Seria absurdo querer conservar apenas a mesa que o carpinteiro produziu, descuidando do próprio carpinteiro e sua potência criativa de produzir mais mesas, inclusive de produzir mesas diferentes daquelas que até hoje ele criou. É no produtor, e não no produto, que criar e conservar andam juntos: o que se deve conservar é o ato de produzir o novo, e não apenas o produto pronto desse ato. É isto, por exemplo, que faz a própolis: ela conserva a vida da colmeia, para que esta se proteja das doenças que querem , de dentro, fragilizá-la ; e, ao mesmo tempo, a própolis é força que ajuda a colmeia a se manter viva, reinventando-se, perseverando na vida.
Criar e conservar se tornam ideias antagônicas quando se quer colocar o conservar antes do criar, vendo no criar algo que ameaça uma “Ordem” rígida , paranoica. Um conservar assim é o que faz o formol: serve para conservar apenas o que já está morto e não se reinventa mais. Arte, filosofia, educação são própolis; protofascismo fundamentalista é formol.



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