Os filósofos
pré-socráticos chamavam a natureza de “physis”. Originariamente, physis
significa brotar ou desabrochar. Uma fonte
pode ser uma imagem-símbolo para a physis, desde que a dessubstantivemos e a
apreendamos como verbo: fontanejar. A rosa desabrocha, ela se abre e se oferece
à luz, e assim fontaneja. Não apenas as
rosas, várias outras coisas desabrocham, fontanejam. A boca que canta
desabrocha, assim como a mão que escreve também fontaneja; também desabrocha a
criança que nasce, o sol que se eleva, o
afeto no peito, o conhecimento na alma. Tudo desabrocha, fontanejando. Mesmo a
alma em silêncio tem o silêncio a lhe desabrochar. Mesmo o homem que morre faz
desabrocharem lembranças que dele teremos. Para quem o crê, o homem que morre
desabrocha outra coisa.
Para os gregos,
a physis não é o desabrochar disto ou daquilo isoladamente, mas o desabrochar
que se expressa em cada coisa diferente , e somente pode mostrar-se
desabrochando, pondo em cada coisa movimento, vida. A physis desabrocha em cada
coisa, desabrochando de si mesma, mantendo ligado a ela o que dela desabrochou.
A physis desabrocha não apenas na rosa, na boca que canta, na criança que
nasce...mas em tudo, no todo . A physis é o desabrochar que permanece em si
mesmo como desabrochar. A physis desabrocha de si mesma e se mostra em cada
coisa que dela desabrocha. Na rosa que desabrocha também desabrocham a água que
ela sorveu, os minerais do solo que ela sugou, a luz que ela absorveu e também
desabrocham através dela os bilhões de anos da terra que a prepararam.
O poeta Manoel
de Barros nos fala que a poesia é a
linguagem dos inauguramentos....A poesia desabrocha em versos, em palavras
escritas. Mas o estado poético, que é o estado de “inventar comportamentos”,
nunca é plenamente um estado, mas um processo de empoemamento. O poeta vê mais
do que o desabrochar das coisas, ele vê o desabrochar enquanto olhar que nele
fontaneja, para assim levá-lo a ver mais do que aquilo que no presente está
dado. Quando tudo parece perdido e
estagnado, de seu olhar uma “linha de
fuga” fontaneja: “Sou água que corre
entre pedras: liberdade caça jeito.”(Manoel de Barros)
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